Na Garagem: Zanardi conquista bi na Indy em Vancouver com quatro provas de antecedência

Bastou um quarto lugar no GP de Vancouver para o italiano Alex Zanardi levantar o bicampeonato da Indy, em 1998, com quatro corridas de antecedência

A Indy (ou CART, depois da cisão com a IRL de Tony George) viveu seu auge técnico e de audiência do meio para o fim dos anos 1990. E um dos grandes nomes daquela década foi Alessandro Zanardi, chamado de Alex em terras norte-americanas. O italiano, chamado por Chip Ganassi para formar dupla com Jimmy Vasser em 1996, foi um dos artífices do sucesso da equipe naquela época e, depois de brilhar com a conquista do título no ano seguinte, foi ainda mais eficiente e faturou o bicampeonato em 1998 em Vancouver, no dia 6 de setembro. Há exatos 25 anos.

O grid da Indy era de uma qualidade técnica irrepreensível. Naquele ano, Tony Kanaan e Helio Castroneves estreavam na categoria, pela Tasman e Bettenhausen, respectivamente. Tony viria a ser o ‘Estreante do Ano’ ao fim da temporada. As estrelas eram Zanardi, Gil de Ferran, Michael Andretti, Vasser, Dario Franchitti — este em franca ascensão —, Greg Moore, Adrián Fernández e Scott Pruett. Robby Gordon, Bobby Rahal e Al Unser Jr. seguiam para o fim das suas brilhantes carreiras.

[relacionadas]

Entre os brasileiros, além de Gil, Tony e Helinho, a Indy tinha Christian Fittipaldi na Newman-Haas — sendo substituído pelo ‘Super Sub’ Roberto Moreno em Milwaukee —, Maurício Gugelmin na PacWest, Gualter Salles na Payton Coyne e André Ribeiro, que correu pela poderosa Penske, porém em má fase naquele ano em que contava com um chassi próprio, mas pouco eficiente. Naquele mesmo dia, Cristiano da Matta conquistava o título da Indy Lights e despontava como a futura estrela brasileira na América, o que viria a se confirmar anos depois.

▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
▶️ Conheça o canal do GRANDE PRÊMIO na Twitch clicando aqui!

Alex Zanardi conquistou título da Indy com muita antecedência em 1998 (Foto: Reprodução)

Numa época em que a CART chegou a rivalizar com a F1 em termos de audiência, o grande destaque em termos de mídia no Brasil ficava com as transmissões ao vivo pelo SBT, que contava com uma equipe que marcou época. O time era liderado pelo narrador Téo José e tinha também os comentaristas Dede Gomes e Celso Miranda e Luiz Carlos Azenha e Antonio Pétrin na reportagem.

Quanto ao campeão, Zanardi se encaixou perfeitamente não apenas à estrutura da equipe e da categoria, mas também ao melhor conjunto da CART à época: chassi Reynard, motor Honda e pneus Firestone, combinação adotada com sucesso desde 1996 e determinante para levar Vasser ao título. Depois de um ano de adaptação, o italiano sobrou com cinco vitórias e o título em 1997.

No ano seguinte, sua performance foi ainda mais contundente: antes da etapa de Vancouver, Zanardi já havia conquistado seis vitórias: Long Beach, Gateway, Detroit, Portland, Cleveland e Toronto, sendo as quatro últimas de forma consecutiva. Alex ainda foi pódio em Nazareth, Rio de Janeiro, Michigan e Elkhart Lake. Depois que confirmou o título no Canadá, ainda foi duas vezes segundo colocado, em Laguna Seca e Houston, venceu em Surfers Paradise e encerrou seu primeiro ciclo na categoria com o terceiro lugar nas 500 Milhas de Fontana.

Em Vancouver, Zanardi sequer precisou vencer para comemorar o bicampeonato. O piloto chegou ao Canadá com 80 pontos de vantagem para Vasser (206 contra 126 do norte-americano), enquanto Adrián Fernández somava 120 e Greg Moore tinha 119. Eram os pilotos que ainda tinham chances matemáticas de lutar contra Alessandro quando restavam cinco corridas para o fim.

Dario Franchitti, correndo com o Reynard-Honda-Firestone da equipe Green, venceu a prova depois de ter largado na pole. O ‘Escocês Voador’ triunfou pela segunda vez seguida na CART com uma vantagem confortável para Michael Andretti, da Newman-Haas. Scott Pruett, que fazia suas últimas corridas pela Patrick, fechou o top-3, logo à frente de Zanardi, que garantiu o bi com o quarto lugar. Maurício Gugelmin, que havia vencido em Vancouver em 1997, foi o melhor brasileiro posicionado, em sexto, seguido por André Ribeiro.

A matemática para o bi era muito favorável a Zanardi, e seus rivais diretos na luta pela taça, Vasser e Moore, abandonaram a disputa em Vancouver. Fernández enfrentou problemas, mas completou a corrida em 15º, porém insuficiente para ter chances de estender a briga pelo título.

Com o título, o piloto conquistou o prêmio de US$ 1 milhão. Zanardi comemorou muito ao lado de Chip Ganassi, vivendo ali seus últimos momentos do seu primeiro ciclo na CART. O italiano já tinha contrato assinado para voltar à F1 e defender a Williams, tendo a chance de substituir ninguém menos que Jacques Villeneuve. Mas foi nos Estados Unidos que o nome de Alessandro Zanardi ficou marcado como um dos maiores da melhor fase da Indy depois da cisão com a IRL.

Zanardi regressou à CART em 2001, dois anos depois da passagem apagada pela Williams na F1. O piloto assinou com a equipe de Morris Nunn — que morreu recentemente — e voltou à categoria, que na época vivia um grande processo de internacionalização, passando a correr na Europa, mais precisamente na Inglaterra, em Rockingham, e na Alemanha, em Lausitz. E foi em Lausitzring que o italiano sofreu o mais grave acidente da sua carreira, perdeu as pernas, mas venceu a morte.

Daí em diante, se notabilizou pelo espírito de superação e as constantes lições de vida. De uma forma ou de outra, Zanardi jamais deixou as pistas e tornou-se atleta paraolímpico, conquistando nada menos que quatro medalhas de ouro no ciclismo de estrada, sendo duas em Londres e outras duas no Rio de Janeiro, além de nada menos que dez títulos mundiais correndo de handbike.

Hoje, Alex se recupera em casa de um grave acidente sofrido em junho de 2020, quando andava com uma bicicleta adaptada e foi atingido por um caminhão. Retirado de helicóptero, o italiano ficou internado por um ano e meio até voltar pra casa, onde vive monitorado por máquinas e pela família, além de passar por várias cirurgias no rosto e cabeça desde então.