Retrospectiva 2022: Bagnaia consegue virada histórica e dá 2º título à Ducati na MotoGP

Depois de muita espera, a Ducati comemorou em 2022 o segundo título da história na classe rainha do Mundial de Motovelocidade. Para isso, porém, o piloto de Torino precisou acertar a mão para superar um início de ano de muitos erros e recuperar o maior déficit de pontos já registrado na história da categoria

Não seria exagero dizer que Francesco Bagnaia precisou escalar um paredão para alcançar o título da MotoGP na temporada 2022. Apesar do ano dominante da marca de Borgo Panigale, o início de campeonato do piloto de Torino foi marcado por uma série de tropicões, o que fez com que ele tivesse de remar bastante para chegar em Fabio Quartararo.

Ainda que o francês da Yamaha fosse o campeão vigente, o #63 foi quem chegou em 2022 com o rótulo de favorito de favorito. E não à toa. A performance na reta final do ano anterior justificava o selo e já havia algum tempo que a Ducati era reconhecidamente a moto mais completa do pedaço.

Francesco Bagnaia fez história na temporada 2022 da MotoGP (Foto: Divulgação/MotoGP)
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Só que a GP22 decidiu aprontar. A nova moto se mostrou um pouquinho mais complicada de acertar e o brilho inicial da casa de Bolonha no ano ficou por conta da já afiada GP21, a máquina do ano anterior. Enquanto técnicos e engenheiros suavam para entender a nova criação de Gigi Dall’Igna, Enea Bastianini mostrava cartas de intenção.

Nos boxes do time de fábrica, Bagnaia mostrava mesmo era impaciência. Depois de um abandono da abertura do campeonato, no Catar, o italiano somou um único ponto na Indonésia, contra 27 tentos conquistados pelo rival ‘El Diablo’. Na Argentina e no GP das Américas, Bagnaia reagiu com dois quintos lugares, resultados melhores do que os do rival. Mas em Portugal, onde Fabio conseguiu a primeira vitória do ano, Francesco foi só oitavo. Depois de cinco corridas, a diferença entre os dois já era de 38 pontos.

Bagnaia fez as pazes com a vitória somente no GP da Espanha, mas nem tudo estava resolvido. Na corrida seguinte, na França, o segundo abandono do ano. Mais uma vez, Pecco reagiu vencendo, desta vez em casa, na Itália. Mas, logo depois, foi a vez de o inesperado entrar em cena.

No GP da Catalunha, Takaaki Nakagami largou como um desesperado, tentando ganhar mais de uma dezena de posições na primeira freada. O japonês não só não conseguiu cumprir o objetivo, como ainda derrubou Pecco e Álex Rins. O piloto da Ducati deixou Montmeló na quinta colocação do Mundial de Pilotos, 66 pontos atrás de Quartararo.

Mas, é como diz aquele animador ditado: nada é tão ruim que não possa piorar. E no caso de Bagnaia, o momento pior chegou na Alemanha. Um novo abandono, o quarto do ano, o fez abrir 91 pontos de atraso para Fabio, que conseguiu em Sachsenring a terceira vitória do ano.

Parecia que o sonho do título estava perdido, mas Pecco conseguiu reagir com uma vitória antes da pausa para as férias, no GP da Holanda, uma corrida onde tudo deu errado para Quartararo. De cara, foram 25 pontos recuperados na conta do pupilo de Valentino Rossi. Só que ele precisava de bem mais do que isso.

Na volta do período de descanso, Pecco era um outro piloto. Ele reconheceu que tinha um problema: a falta de consistência, e passou a funcionar como um relógio. Tendo a melhor moto nas mãos, engatou uma sequência de três vitórias — Grã-Bretanha, Áustria e San Marino e Riviera de Rimini — e foi segundo colocado em Aragão, no que foi o primeiro pódio dele no ano sem ser por vitória.

Mas ainda dava tempo para uma lambança final. No GP do Japão, tentando ganhar um mísero ponto em cima de Quartararo, Bagnaia pecou pelo excesso e garantiu o quinto abandono de 2022. Para a sorte dele, Fabio estava mal naquela corrida e foi apenas 14º, então a diferença entre os dois no campeonato já tinha baixado para 18 pontos.

É bom destacar que, enquanto a Ducati passou o ano curtindo a alegria de ter a melhor moto, a Yamaha sofreu com uma YZR-M1 deficitária, especialmente no que diz respeito ao motor. A briga pelo título se deve única e exclusivamente ao talento de Quartararo, uma vez que nenhum dos outros pilotos da marca chegaram nem perto de fazer o que ele fez em cima do mesmo protótipo.

Nas duas corridas seguintes, os GPs da Tailândia e da Austrália, Pecco conquistou o terceiro lugar, somando mais 32 pontos. Fabio, por outro lado, foi só 13º em Buriram e abandonou em Phillip Island depois de uma série de erros. E foi justamente na terra de Casey Stoner, até então o único campeão com a moto de Bolonha, que Francesco tomou a liderança do campeonato.

O primeiro match-point veio na Malásia, mas ainda que Pecco tenha alcançado uma vitória, a sétima do ano, Fabio venceu na unha para, pelo menos, adiar a festa italiana. O sonho só foi alcançado na Comunidade Valenciana. Mesmo com tudo em jogo, o italiano seguiu o lema ‘Go Free’ e foi com tudo nas primeiras voltas, inclusive perdendo asas da Ducati em toques com Quartararo.

Aos poucos, porém, as coisas se acalmaram. Fabio conseguiu uma quarta colocação, mas dependia da vitória. Pecco desceu até nono, mas isso bastava para encerrar uma espera de 15 anos para a Ducati. Ele fez história, também, com o primeiro título de um italiano com uma moto italiano em 50 anos, desde que Giacomo Agostini venceu com a MV Agusta em 1972.

Bagnaia precisou escalar uma montanha para superar os pontos perdidos, mas apontou no talento e na boa moto que tinha para dar à Ducati um ano mágico na MotoGP.