Martín joga carta da pressão psicológica e tenta desestabilizar Bagnaia em Valência

Jorge Martín aproveitou a sexta-feira (24) em Valência para mostrar que vai lançar mão de todos os recursos disponíveis para tentar derrotar Francesco Bagnaia na luta pelo título da MotoGP. E a carta da vez foi uma intensa pressão psicológica

O título de 2023 da MotoGP será disputado também no campo mental. No primeiro dia de atividades para o GP da Comunidade Valenciana, Jorge Martín lançou mão da carta da pressão psicológica para tentar desestabilizar Francesco Bagnaia.

Matematicamente, a situação o campeonato é simples. Pecco lidera com 21 pontos de frente, com 37 em jogo no fim de semana: 12 da sprint e 25 da corrida. Sendo assim, o titular da Ducati pode chegar ao bicampeonato já no sábado, basta abrir mais quatro pontos de diferença para o rival.

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Rodando no prejuízo, Martín precisa de todos os artifícios que tiver a disposição, já que vitórias simples não resolvem o problema. Ainda que vença as duas provas do fim de semana, se Pecco for segundo, o #1 ainda será o bicampeão, por 13 pontos de diferença.

Assim, não basta a Martín ir bem. Ele precisa de Bagnaia consideravelmente pior e de mais gente para se meter entre eles. No que diz respeito aos rivais, o dia foi proveitoso no circuito Ricardo Tormo.

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Jorge Martín tentou fazer pressão em cima de Francesco Bagnaia (Foto: Gold & Goose/ Red Bull Content Pool)

Com 1miin29s142, Maverick Viñales colocou a Aprilia no topo da tabela, 0s147 melhor do que Martín, que fez o segundo tempo. Para deixar o #89 ainda mais feliz, Johann Zarco fechou em terceiro, só 0s007 mais lento que o companheiro de Pramac. Fabio Di Giannantonio é outro que foi competitivo e se destacou ao longo de todo dia.

Mas, como é o título que está em jogo, e Martín luta duplamente contra a história — já que pode ser o primeiro representante de equipe satélite a vencer o Mundial de Pilotos na era da MotoGP e também virar a maior diferença de pontos da história na derradeira corrida —, o foco ficou mesmo no duo da ponta da classificação. E Jorge deu conta de protagonizar um espetáculo mesmo nos treinos.

Na parte da manhã, o roteiro foi o mesmo de sempre: o espanhol mostrando força logo de cara e o italiano focado em trabalhar na Desmosedici. Na parte da tarde, Martín partiu para a guerra psicológica, tentando desestabilizar o competidor de Torino ao colar nele nos minutos finais da sessão que definiu quem avança direto ao Q2 e quem tem de passar pelo Q1.

Acostumado a puxar rivais, Pecco permaneceu impassível, mas o fato é que não conseguiu lugar entre os dez melhores do dia. Com 1min29s801, o irmão de Carola e Filippo foi apenas 15º, 0s659 mais lento do que o líder, e, assim, terá de disputar as duas vagas restantes na fase final da classificação.

Ao fim dos trabalhos, Martín se mostrou satisfeito com o resultado e explicou que rodar grudado em Pecco tinha um objetivo acadêmico.

“Estou contente”, disse Martín. “Tivemos de fazer uma estratégia delicada, com o pneu médio. No fim, tudo saiu bem”, avaliou.

“Foi uma marcação em cima do Pecco, mais para saber como ele está, os pontos fortes e fracos dele, ter mais informação”, explicou. “De verdade, achava que ele ia forçar. Não sei se ele não quis ou se aconteceu alguma coisa. Aí veio a bandeira amarela. Foi um pouco de uma combinação de coisas, mas está claro que ir direto ao Q2 era a meta”, frisou.

Jorge assumiu, ainda, que colocar pressão em Pecco era uma das missões do dia.

“Foram momentos de tensão, porque não é algo que eu gosto de fazer. É uma coisa que vocês nunca me viram fazer: chupar roda. Sempre vou sozinho”, comentou. “Tínhamos a necessidade de colocar um pouco de pressão, deixar as coisas mais complicadas do que são. Saiu como esperávamos. Não foi fácil, tinham pilotos no meio… Parecia uma guerra, mas tudo bem. Acho que ele ficou um pouco nervoso”, opinou.

“Obviamente, ele não estava confortável com a minha presença tão de perto. Ainda que não pareça, fizemos 1min29s os dois. Eu também estava muito focado nas minhas coisas, em não cair, em fazer as coisas bem”, acrescentou. “Nós todos pensamos muito durante essa semana. Sei que não é fácil colocar pressão em um grande piloto como ele. Obviamente, ele tem amanhã para entrar [no Q2], mas era importante colocar alguma dificuldade”, defendeu.

Martín disse, porém, que não gosta deste tipo de imagem, mas frisou que a opção de usar jogos psicológicos é válida em uma disputa como essa.

“É uma imagem que, claro, não gosto de passar. Nunca fui um piloto de buscar rodas, sempre rodei sozinho. Por isso, não é algo que me agrade. Não fiquei contente quando aconteceu. Não estou contente com o resultado, pois está afetando e isso tampouco é justo, mas, por outro lado, também é bom, um pouco de show, de estratégias. Sempre vemos pilotos forçando como loucos, mas acho que um pouco de jogo psicológico é importante”, completou.

Quem não gostou nada do espetáculo foi Davide Tardozzi. O chefe da Ducati ainda tentou empatar a saída de Martín dos boxes para ganhar tempo para Pecco, mas não deixou de criticar a ação do espanhol.

Davide Tardozzi, chefe da Ducati, tentou atrapalhar Martín (Vídeo: Reprodução/DAZN España)

“Pecco não teve seu melhor dia, mas não foi pela marcação do Jorge, algo que não damos a mínima. Ele simplesmente não andou bem hoje”, assumiu. “Essa marcação é ridícula, assim como faz o Marc Márquez algumas vezes, mas é permitida. Acho que o Martín está tentando fazer pressão com isso. Ele tem que vencer as duas corridas e provavelmente consiga, não sei. Nosso objetivo é fazer o máximo de pontos necessários para o título”, destacou.

“São algumas situações que já critiquei no passado, e continuo criticando, porque em minha opinião, em um campeonato de certo nível não são aceitáveis. Algumas situações na MotoGP me fazem rir”, atacou.

Normalmente calmo, Bagnaia também não se abalou com a pressão do rival. Ou, pelo menos, tentou mostrar que não se abalou. O italiano admitiu que não teve um bom dia e que tem problemas em Valência.

“Tive dificuldade. Não foi um dia fácil desde o início”, confirmou Pecco. “Sofri um pouco com os freios no início do TL1 e fizemos uma mudança e me senti ok. Mas meu feeling hoje não foi o melhor na entrada das curvas. Ficava travando o tempo todo e eu perdia muito a sensação”, explicou.

“Mas, honestamente, checando meus dados após o tempo de ataque, perdi 0s5 em três curvas, então é mais fácil entender como melhorar. Mas 0s5 em três curvas é uma enormidade”, apontou. “Vamos melhorar para amanhã. Claro, normalmente nós temos tempo e terminamos o trabalho ainda na sexta-feira. Desta vez, precisamos de um pouco mais [de tempo], então amanhã de manhã será uma sessão muito importante”, continuou.

Questionado se sente mais nervosismo do que sentiu no ano passado, quando disputou o primeiro título da carreira com Fabio Quartararo no mesmo GP da Comunidade Valenciana, Francesco respondeu: “Devo dizer que é melhor agora. Não sei se é só porque agora tenho de pensar em melhorar o meu feeling. Mas, ano passado, estava sofrendo mais com a pressão”.

“Ano passado, estava mais nervoso. Hoje aceitei que temos problemas, aceitei que temos de trabalhar”, declarou. “Já checamos os dados de muitas voltas e estou feliz que o tempo que estou perdendo é só em três curvas. Isso é fantastico”, avaliou.

Ao falar sobre a postura de Martín, Bagnaia afirmou que já está “acostumado” a ser seguido, mas alfinetou ao sugerir que o espanhol não deveria pensar em jogos mentais.

“Sinceramente, estou acostumado. É a mesma coisa em todas as sessões. E, nas últimas três corridas, Jorge começou a fazer o mesmo”, relatou. “Honestamente, fui bem lento para estar no Q2, então esperava não ser competitivo. Tentei fazer o máximo e não foi o bastante. Em relação a Jorge, seria um pouco melhor se ele começasse a pensar no trabalho dele, pois ele disse que precisa vencer as duas corridas. Deste jeito, ele está perdendo tempo [que deveria usar] focando no trabalho dele. No momento, ele não é o mais rápido, então é melhor ele melhorar um pouco”, ironizou.

Por fim, o italiano voltou a rejeitar o uso de ordens de equipe e lembrou que conseguiu vencer na Indonésia mesmo largando em 13º.

“Não gosto de ordens de equipe e acho que temos o potencial para estar no Q2”, avaliou. “Vou tentar fazer o máximo. Caso não esteja no Q2, em Mandalika eu fui 13º [na classificação] e ganhei a corrida. Então vamos tentar fazer o máximo”, concluiu.

O segundo treino livre da MotoGP para o GP da Comunidade Valenciana, no circuito de Valência, acontece neste sábado, às 6h10 (de Brasília). O GRANDE PRÊMIO faz a cobertura completa do evento, assim como das outras classes do Mundial de Motovelocidade.

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