Opinião GP: Verstappen põe dedo na taça por mérito e é injusto que tenha rivais tão ruins

Nem mesmo um pequeno vacilo na Portier foi capaz de tirar de Max Verstappen a sensação de liderança. Ainda que em condições adversas, o holandês jamais perdeu o comando do GP de Mônaco, e a vitória majestosa dá um recado único: será preciso mais para enfrentá-lo na F1 2023. Mas a verdade é que o bicampeão não tem adversários, com exceção de Fernando Alonso

A FÓRMULA 1 VIVE em 2023 um ano de extremos. De um lado, há esse sublime Max Verstappen, que raramente deixa brecha para a má sorte ou qualquer coisa que possa ficar em seu caminho. De outro, há uma concorrência despreparada e irritantemente errática. O que é uma pena, diante do que o Mundial poderia ser. A eletrizante classificação de sábado deu uma pequena amostra do que a maior categoria do esporte a motor está perdendo. E mais do que isso, aquela disputa mostrou que a F1 também não precisa de soluções mirabolantes para criar suspense e tirar o fôlego. Mas é imperativo que os demais elementos do campeonato entreguem excelência. O GP de Mônaco foi mais um a expor a fragilidade dos supostos oponentes frente a um Verstappen implacável, que agora se coloca ainda mais favorito ao tri, com todos os méritos.

Apesar da vitória, não foi um fim de semana fácil para o holandês e sua Red Bull. Foi preciso um trabalho de acerto minucioso ao longo dos treinos que exigiu de Max muito de sua habilidade e experiência. A volta que lhe deu a pole no sábado foi a melhor de sua carreira na F1, não só pela maneira como ele conduziu e pela tática usada para pregar uma peça em todos, mas especialmente pela pressão do momento, com um gigante Fernando Alonso no topo da tabela. E o piloto justificou o #1 estampado no bico de seu carro. Ali mesmo ficou a impressão de que superá-lo no dia seguinte só seria possível num golpe de sorte, no acaso ou na combinação de tudo.

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Quase aconteceu. Mas aí o retrato da temporada se impôs. É importante colocar aqui que Alonso é uma exceção nesse mar medíocre que se transformou a maior parte do pelotão da F1, mas nem ele está a salvo das decisões tomadas por seu time no pit-wall. É certo dizer que a Aston Martin tentou surpreender, muito embora seja preocupante uma equipe chegar no momento mais importante do fim de semana sem pneus novos. Ainda assim, a esquadra britânica decidiu calçar o bicampeão espanhol com compostos duros usados. O objetivo era simples: Fernando tentaria estender ao máximo o stint com esses pneus para aproveitar a chance de chuva que existia para muito mais da metade da prova. Também havia ideia de que o líder teria de parar antes de toda a forma.

Os melhores momentos do GP de Mônaco (Foto: F1 TV)

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Isso porque a tática contrastou com a da Red Bull, que preferiu os médios no carro #1. Só que Verstappen entregou um desempenho seguro. Não só saltou bem da posição de honra do grid, como manteve Alonso sob controle por toda a corrida. Deu a impressão de que o holandês poderia até ter feito mais, mas sabiamente optou pelo cuidado com os pneus, para evitar qualquer surpresa. Dito e feito. A chuva que realmente surgiu já na segunda parte da prova foi um grande teste, inclusive para o líder do campeonato, que passou com louvor, sendo ajudado por uma bitoquinha na famosa Portier.

Alonso e a Aston Martin hesitaram no momento da troca de pneus, quando a precipitação endureceu. O espanhol entendeu que ainda era possível andar com os pneus slicks, porque só estava molhado em dois trechos do traçado, mas a Red Bull preferiu arriscar e deixou Max mais uma volta — giro esse da reladinha no guard-rail. Então, mesmo com uma volta a mais nessas condições, o piloto parou para troca dos intermediários, enquanto Fernando precisou de um segundo pit-stop para mudar os médios recém-colocados pelos compostos de pista molhada. Esse vacilo acabou tirando qualquer chance do asturiano, que terminou 27s atrás do vencedor Verstappen.

Ou seja, em um momento decisivo da corrida, a Aston Martin errou, mas a Red Bull, não. É verdade que as condições estavam difíceis, mas o time do pit-wall tem mais informações que o piloto e falhou na leitura de corrida. Ainda foi possível salvar o pódio, mas poderia ter sido melhor. Portanto, embora tenha em suas garagens um cara fora de série, a esquadra verdinha não está pronta para uma batalha contra os taurinos.

Fernando Alonso foi ao pódio, mas poderia ter vencido em Mônaco (Foto: AFP)

E o cenário piora na medida em que se olha ao redor e vê que duas das maiores equipes do grid que deveriam fazer frente à Red Bull e Verstappen ainda não se encontraram no campeonato — ainda mais desolador: talvez nem se encontrem. A Ferrari se tornou um arremedo. Apesar de ter nas mãos um projeto de potencial, nada funciona nos boxes ferraristas. E desculpas como a de sábado para o bloqueio de Leclerc em Lando Norris são só mais um capítulo mal escrito do livro de galhofa. Mas a equipe tem a manha de ir além: a tentativa de blefe do time na disputa com a Alpine de Esteban Ocon durante a corrida monegasca foi apenas sem sentido. Especialmente porque a equipe pareceu mais preocupada com Lewis Hamilton, que vinha atrás, do que com Ocon, a quem Carlos Sainz lutava para se aproximar e tinha bom ritmo. Acima de tudo, a ideia original era também alongar o stint, por isso a opção pelo começar a prova com os compostos duros, mas não foi possível por conta da escolha de cobrir a Mercedes. Daí a bronca do espanhol no rádio.

No fim das contas, a Ferrari não cumpriu com a estratégia, ainda esperou para chamar seus dois pilotos quando a chuva desabou e perdeu posições, mas isso é o de menos. O problema maior ainda tem sido a dupla de pilotos. Sainz abusou do direito de fazer trapalhadas em Monte Carlo. Bateu bisonhamente em Ocon e, quando a chuva apertou, simplesmente o madrilenho não foi capaz de parar na pista. Já Charles Leclerc desapareceu em sua etapa caseira. Aliás, o monegasco vem uma temporada problemática e claramente não confia na escuderia. Ou seja, tudo isso combinado apenas afasta os italianos de qualquer chance de disputa a curto e médio prazo.

Então, não dá para entender como um time do tamanho da Ferrari simplesmente não é capaz de entregar resultados, de colocar na pista um carro minimamente competitivo. E mais, por que ambos os pilotos seguem tão inconsistentes, sendo já uma jornada sólida na F1?

Então, há a Mercedes. Outrora dominante e excelente, a esquadra joga contra sua história. O erro no projeto dos carros de efeito solo a fez despencar no pelotão. 2022 foi sofrível, mas o começo de 2023 pareceu ainda pior, principalmente pela insistência em um conceito fadado ao fracasso. Assim, a esquadra precisou recuar e promover uma transformação.

Sainz atingiu Ocon e danificou a asa dianteira de sua Ferrari (Vídeo: Dazn)

A primeira amostra veio em Mônaco e, embora pareça que a decisão tenha sido acertada, o novo W14 ainda vai demandar desenvolvimento e estudo. Por isso, o time de Toto Wolff segue no limbo, apesar de ter um ponto muito forte. Ao contrário da Ferrari, a octacampeã pode contar com seus pilotos. Mesmo em um dia ruim, George Russell entregou mais que os ferraristas. E Lewis Hamilton, bem, ele não tem sete títulos à toa. No entanto, uma coisa está clara: a Mercedes está fora de combate e entra, sim, nesse balaio de decisões equivocadas.

Por fim, a vitória de Verstappen o coloca 39 pontos à frente de Sergio Pérez — e aqui cabe uma menção: o mexicano também é parte da incompetência geral que tomou conta do grid. Sendo o único com condições de enfrentar Max, o piloto deixou claro que não suporta a pressão do combate corrida a corrida e vai perdendo uma enorme chance na carreira. Os erros em Mônaco falam por si. O fato de Pérez ter de se preocupar mais com Alonso é a fotografia da derrota.

Portanto, a Fórmula 1 continua sendo de um homem só. Verstappen vem construindo uma história majestosa nas pistas em 2023, mas não tem rivais nesse universo de bobagens, o que é tremendamente injusto com ele.