Hülkenberg é antônimo de novidade, mas faz por merecer vaga na Fórmula 1

Nico Hülkenberg pode não ser a escolha ideal de titular para a Haas em 2023, mas corrige a injustiça de 2019 retornando a um grid que sempre teve nível para pertencer

O ano é 2019. Nico Hülkenberg é consolidado e elogiado como um dos melhores pilotos do pelotão intermediário da Fórmula 1, e talvez até um injustiçado por nunca ter recebido chance em times maiores. Apesar de ser um piloto de fábrica, correndo na Renault, o time deseja voar um pouco mais alto. Já tinha assinado com Daniel Ricciardo, condecorado como um vencedor de corridas, e para 2020, resolveu investir no jovem Esteban Ocon, escanteado como reserva da Mercedes.

Mesmo muito elogiado, Hülkenberg não consegue arranjar outra vaga no grid para 2020. Boa parte dos acordos estavam fechados, e outros lugares no grid estavam tomados por pilotos pagantes. Mesmo com uma longa jornada e sem necessariamente cair de nível, o alemão acabou injustamente fora do pelotão.

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Ao retornar para o grid em 2023, pela Haas, Hülkenberg tem a chance de corrigir uma injustiça histórica, voltar para o lugar onde sempre pertenceu, para ao menos ter uma despedida digna, já que é possível imaginar que este será seu último contrato na Fórmula 1. 

Hülkenberg na passagem pela Racing Point (Foto: Racing Point)

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O fato de Nico retornar não significa necessariamente que a escolha da Haas é tão boa assim. O time abriu mão de Mick Schumacher, um piloto ainda muito jovem e cru, para ter dois pilotos veteranos e acima dos 30 anos de idade. Hülkenberg e Kevin Magnussen até devem entregar resultados e aumentar o potencial do time americano em 2023, mas é uma dupla de prazo curto, que não tem um equilíbrio pensando no futuro. Por mais que a Haas não goste, é bem possível que muito em breve precise buscar novos nomes no mercado.

A impressão sobre Schumacher, por exemplo, é de que o time nunca desejou o jovem ali, só deu estes dois anos de experiência na Fórmula 1 pelo vínculo com a Ferrari, e a partir do momento em que o filho de Michael não tem mais contrato com Maranello, não há mais a necessidade de mantê-lo. Pena para Mick, ainda um piloto jovem, de talento, e que merece algum lugar para tentar desbloquear o potencial que ficou bastante preso em um time desfuncional.

A Haas até merece suas críticas por resgatar Nico em vez de apostar em algum piloto novo, mas desdenhar do nível do alemão e reduzi-lo ao fato de não ter pódios é uma análise rasa e resultadista. Hülkenberg nunca teve, por exemplo, uma chance de correr em uma equipe de ponta, e ocupou times do pelotão intermediário justamente em uma das fases de maior discrepância entre times da história da Fórmula 1.

Nico Hülkenberg pela Renault (Foto: Renault)

Como esquecer, por exemplo, de quando Hülkenberg anotou uma pole-position em Interlagos com uma Williams? Ou dos anos em que foi fundamental para a Force India ser uma das equipes mais fortes do pelotão intermediário? Quem fala que Nico não fez nada de relevante esquece, por exemplo, do baile que deu em Carlos Sainz quando compartilharam garagem na Renault, em 2018, ou do GP da Inglaterra de 2020, quando classificou a Racing Point no terceiro lugar mesmo com pouquíssimo tempo de experiência no carro.

O bombardeio das redes e de parte da mídia é até semelhante ao período em que o próprio Magnussen foi resgatado, com apenas duas semanas antes do início da temporada, de volta ao grid. Insistiram que o dinamarquês já tinha tido sua oportunidade na Fórmula 1, e que a Haas deveria escolher Pietro Fittipaldi, mesmo que o brasileiro jamais tenha conquistado quaisquer resultados relevantes para merecer um posto de titular na F1.

O tempo provou que a escolha da Haas por um nome mais experiente e com conhecimento da casa foi de sucesso. Magnussen praticamente carregou o time em 2022, apesar de seus altos e baixos. Registrou o melhor resultado da equipe desde 2018, além da histórica pole-position em Interlagos.

Nico pode até não ser a escolha ideal para um time de Fórmula 1 em 2023, mas já provou diversas vezes o seu alto nível. Reduzi-lo a um resultadismo besta sem entender o contexto histórico da categoria também é um erro.

O GP de Abu Dhabi acontece entre 18 e 20 de novembro no Yas Marina Circuit, com cobertura AO VIVO E EM TEMPO REAL do GRANDE PRÊMIO.