Na Garagem: Senna aproveita chuva, derruba Williams e vence no Brasil pela última vez

Na segunda corrida da F1 1993, Ayrton Senna superou as poderosas Williams com uma ajudinha da chuva e um erro de Alain Prost, que ignorou a pista molhada e seguiu de pneus para o seco até bater. Foi a última vitória do brasileiro em sua corrida de casa

Foi em 28 de março de 1993, há exatos 30 anos, que Interlagos viveu um dos momentos mais marcantes de sua história. Em um final de semana de reviravoltas nos resultados e no clima, Ayrton Senna venceu pela segunda e última vez a corrida disputada em sua casa.

Apesar de ser um dos grandes nomes do grid do GP do Brasil de F1 e de conhecer muito bem a pista paulistana, Senna não era exatamente favorito ao triunfo. Na realidade, friamente existiam dois candidatos firmes à vitória ali: Alain Prost e Damon Hill, os dois pilotos da absurda Williams, que tinha muito mais carro que todo o resto do pelotão.

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E, pensando bem, tudo indicava que seria Prost o grande vencedor daquela que era apenas a segunda etapa da temporada, já que Hill iniciava somente seu segundo ano de F1 – primeiro na equipe de Grove – e ainda buscava, por exemplo, seu primeiro ponto na carreira no Mundial.

Ayrton Senna duelou com Damon Hill no Brasil em 1993 (Foto: Reprodução/Twitter)

O campeonato ainda estava bem no começo, mas já se sabia que a Williams seria o time a ser batido. E foi mesmo: no fim das contas, Prost se sagrou campeão com imensa vantagem para Senna, que ainda foi vice. Aliás, os dois, nessa mesma ordem, tinham fechado a prova de abertura do campeonato em Kyalami.

Em Interlagos, o filme poderia se repetir. Na classificação, Prost parecia em outra categoria. Líder de todos os treinos, o francês fez a pole com 1min15s866, colocando quase 1s no companheiro Hill. Senna fez o que deu, mas a distância para os dois era muito grande e o brasileiro ficou 1s8 acima de Prost, batendo por pouco o quarto colocado Michael Schumacher, da Benetton.

A largada veio e Senna saltou bem, superando Hill logo nos primeiros metros. Também de cara já dava para ver a diferença nos ritmos de Williams e McLaren, com Prost abrindo muito para o ex-companheiro de time e grande rival. Os primeiros problemas logo apareceram: Gerhard Berger e Michael Andretti se acertaram e bateram muito forte. Martin Brundle e Fabrizio Barbazza também já ficavam pelo caminho na primeira volta.

Ayrton Senna venceu pela última vez no Brasil em 1993 (Foto: Reprodução/Twitter)

Depois disso, porém, as coisas ficaram um pouco mais calmas na corrida. Riccardo Patrese e Rubens Barrichello tiveram problemas mecânicos e deixaram a disputa, enquanto Hill naturalmente superou Senna na volta 11. No 25º giro, porém, foi quando a prova pegou fogo. Senna deu uma volta em Érik Comas e recebeu um contestado stop & go, sendo jogado para trás de Schumacher.

Poucos minutos depois, começou a cair o mundo em Interlagos. Ali era claramente hora de parar nos boxes e trocar os pneus. Senna, Schumacher e Hill fizeram isso rapidamente, enquanto Prost quis brincar com a sorte e resolveu ficar um pouco mais. Uma colisão japonesa entre Ukyo Katayama e Aguri Suzuki mudou os rumos da corrida e causou o primeiro safety-car da corrida.

E foi nesse cenário de caos que a história da prova mudou de forma completa. O brasileiro Christian Fittipaldi rodou no fim da reta e parou na caixa de brita do S do Senna com sua Minardi. Logo depois, foi acertado por um carro descontrolado que passava atravessado pela curva. Sim, era Prost. O francês, inexplicavelmente, resolveu ficar na pista alagada de pneus slicks e acabou pagando caro. Uma vitória quase certa virou um abandono. O público em Interlagos foi ao delírio, claro.

Quando a bandeira verde voltou, Hill liderava o pelotão e Senna voltava a ser segundo, já que Schumacher tinha enfrentado problemas com a Benetton nos boxes. Jean Alesi, que fez grande largada, vinha em quarto, na frente de Johnny Herbert.

Ayrton Senna enfrentou a Williams de Damon Hill no Brasil em 1993 (Foto: Reprodução/Twitter)

Naquele momento, a pista já começava a ganhar trilhos, e Herbert foi o primeiro a perceber isso. O britânico da Lotus deu o pulo do gato ali, enquanto Senna também resolvia já parar. Hill ficou um pouco mais e, quando fez a parada, foi bem mais veloz nos boxes do que o brasileiro. Mas aquilo não adiantou nada.

O inglês voltou sambando para a pista e foi alvo fácil de Senna que passou de forma contundente, dando um olé no inglês, sem dar a menor chance ao rival. A briga pelo pódio é que foi muito quente. Schumacher e Alesi tomaram stop & go por ultrapassagens sob bandeiras amarelas e precisaram remar de volta. O alemão, no limite, superou Mark Blundell e Herbert, salvando um lugar no pódio. Alesi parou em oitavo.

Lá na frente, Senna só fez abrir a vantagem para Hill e, mesmo tendo um princípio de problema no carro na reta final, controlou mais de 15s de frente e venceu pela segunda – e última – vez o GP do Brasil, com ajudinha da chuva e do erro crasso cometido por Prost.

O que se viu entre a bandeirada final e o pódio foi uma grande festa em Interlagos. O público invadiu o traçado e foi entrando na frente dos carros, cercando a McLaren vermelha e branca de Senna e festejando junto ao ídolo local.

Alex Zanardi fez ponto no Brasil em 1993 (Foto: Reprodução/Twitter)

"Foi uma das minhas melhores vitórias e um resultado muito especial, numa corrida especial. Acho que quando Deus quer uma coisa, ninguém tira. Não podíamos competir com as Williams, a não ser em condições especiais", disse o brasileiro após a prova.

Só que não foram apenas sorrisos para Ayrton depois do triunfo. O paulista também ficou bem incomodado com a punição que recebeu na primeira metade da corrida.

"Não sei o motivo de ter sido penalizado, uma vez que segui o Comas em três ou quatro curvas e foi ele que depois se afastou para me fazer passar. Acho que quem tem de tomar essas decisões deve poder implementá-las de outra forma, para não cometer grandes erros como esse do qual fui vítima hoje. É lamentável, aliás, que os pilotos possam ser multados e castigados, por vezes sem justificativa, mas não haja qualquer sanção para quem erra uma decisão", comentou o brasileiro.

"Nem essa punição evitou que eu ganhasse, mas fiquei bastante aborrecido e tive de procurar me acalmar. Depois, nas últimas dez voltas, achei que podia ganhar, já que havia conseguido uma boa vantagem sobre o Hill e podia controlar a corrida, se nada de anormal acontecesse, mas nas últimas seis voltas acendeu por duas vezes a luz da pressão do óleo e temi não conseguir acabar a corrida. Fiquei muito apreensivo e reduzi bastante o ritmo com medo de dar algo no motor", completou.

Aquele GP do Brasil também teve algumas marcas interessantes. A McLaren chegou a 100 vitórias na F1, enquanto Senna alcançou o 75º pódio de sua carreira. Hill fez seu primeiro pódio, sua primeira vez na primeira fila, seu primeiro ponto. Quem também marcou um tento inédito foi Alessandro Zanardi, que chegou em sexto com a Lotus.

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