Na Garagem: Prost faz corrida cerebral em Portugal e garante tetra em ano de despedida

Em batalha direta com o companheiro Damon Hill pelo título de 1993, Alain Prost novamente fez jus ao apelido de "Professor" e, com uma corrida racional e focada no resultado, se tornou o primeiro tetracampeão da Fórmula 1 desde Juan Manuel Fangio, em 1956

Marcado eternamente na história da Fórmula 1, o dia 26 de setembro marcou, há 30 anos, o surgimento do segundo tetracampeão da categoria. Antes de Michael Schumacher e Lewis Hamilton conquistarem o hepta e Sebastian Vettel garantir a quadra, Alain Prost se tornou o primeiro nome a assegurar quatro taças desde Juan Manuel Fangio, multicampeão na década de 1950.

E, como não poderia deixar de ser, o título do francês veio banhado em suas próprias características. Já com a aposentadoria anunciada para o fim daquele ano, Prost nem precisou vencer o GP de Portugal, disputado no Estoril, para levar o título. Em mais uma corrida cerebral, o campeão apenas fez o necessário e, com um 2º lugar, reafirmou ainda mais seu nome na história da F1.

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O anúncio da aposentadoria veio apenas dois dias antes da etapa portuguesa. Fundador da Williams, o inglês Frank Williams desejava ter Ayrton Senna em seu cockpit para a temporada de 1994, e sabia que o desejo do brasileiro era recíproco.

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Alain Prost se tornou tetracampeão guiando a Williams em 1993 (Foto: Reprodução)

Alain, porém, se recusava a dividir a garagem com Ayrton depois da parceria bélica na McLaren — inclusive o vetando na equipe para 1993 —, e Sir Frank chegou a uma conclusão simples: como Alain tinha contrato até o fim de 1994, o vínculo seria cumprido integralmente até o encerramento do ano seguinte, mas sem o piloto no cockpit.

Assim, com Prost recebendo e já aposentado, o caminho estaria livre para Senna assinar com a Williams e realizar um desejo de ambas as partes. Antes disso, porém, o Mundial de Fórmula 1 tinha mais três etapas naquela temporada [Portugal, Japão e Austrália], e Alain tinha uma vantagem considerável para encerrar o ano com a 1ª posição.

Para que o título fosse decidido já em Estoril, a conta era simples: desde que Damon Hill não vencesse, Prost precisava apenas de um 2º lugar. Se Ayrton — que ainda tinha chances matemáticas — fosse o vencedor, o francês precisaria apenas ser . Em caso de vitória de Alain, o tetra também estaria assegurado.

Na classificação, porém, Hill levou vantagem sobre Prost por apenas 0s189 e alinhou na primeira posição, com o francês logo atrás. Para se ter uma ideia da dominância da Williams, Damon ficou 0s949 à frente do 3º colocado no grid, Mika Häkkinen, e a 0s997 de Senna. Um foguete.

Aqui, vale um parêntese interessante. A corrida em Portugal marcou a estreia de Häkkinen pela McLaren, e o fato de o finlandês ter superado Senna logo em sua primeira classificação deixou o paddock atônito em Estoril. O feito não aconteceria de novo, porém, já que Ayrton superou Mika em suas duas corridas derradeiras pela equipe e, no ano seguinte, sofreria o acidente fatal logo na 3ª rodada do campeonato.

Em gesto imortalizado por Senna, Prost pegou a bandeira da França para celebrar o tetra (Foto: Sérgio Roseiro/Forix)

Aqueles que esperavam uma batalha ferrenha entre os companheiros de Williams pelo título, porém, se decepcionaram ainda antes da largada em Portugal. O carro de Hill simplesmente apagou na volta de apresentação e, quando o inglês conseguiu se aproximar do pelotão, precisou alinhar na última posição. Com isso, o virtual campeão Prost herdou a pole.

A largada de Prost, entretanto, não foi boa. Evitando qualquer tipo de acidente, o francês rapidamente caiu para a 4ª colocação, enquanto Jean Alesi tomou a ponta com a Ferrari. Häkkinen e Senna, ambos da McLaren, se colocavam entre os dois. Lá atrás, Hill iniciava um árduo processo de recuperação para ainda sonhar com a taça.

Enquanto o inglês ultrapassava velozmente seus rivais, Senna passou Häkkinen e ficou preso atrás de Alesi, que tinha vantagem nas retas — mas perdia nos setores mais travados da pista. Com o francês segurando aqueles que vinham atrás, Prost e Michael Schumacher também se aproximaram e passaram a comboiar as duas McLaren.

No entanto, qualquer esperança de Senna de vencer a corrida foi pelos ares na volta 20, quando um estouro do motor Ford forçou o brasileiro a abandonar.

Vencedor da corrida em Estoril, Schumacher seria o terceiro tetra da F1 em 2001 (Foto: F1)

A partir daí, a disputa passou a envolver as diferentes estratégias. Alesi e Häkkinen pararam na volta 20, uma antes de Schumacher, e Prost assumiu a liderança. A estratégia da Benetton se provou a mais acertada e, quando todos voltaram à pista, Michael assumiu o segundo lugar. Alain parou na volta 29, e o alemão enfim tomou a ponta.

Mas e Hill? Em recuperação fulminante, o inglês passou a ser o 2º colocado na janela de pit-stops, apenas atrás de Prost. No entanto, Damon ainda precisava parar, e o momento escolhido foi a volta 30 — uma depois do companheiro de equipe. Na volta, o campeão de 1996 se viu em 5º, logo atrás de Häkkinen.

A ultrapassagem não demorou muito, porém, já que Häkkinen abandonou na volta 32 com um acidente bizarro. Buscando entrar na reta principal com o mínimo de distância possível para Alesi, o finlandês perdeu o controle do carro no ar sujo e rodou, atingindo o muro com violência. Apesar da batida, Mika deixou o carro sem maiores problemas.

A partir daí, a corrida seguiu seu ritmo natural até o fim. Hill ainda aproveitou uma segunda parada de Alesi para tomar o 3º lugar, enquanto Schumacher partiu rumo à vitória e Prost se contentou com o 2º posto, suficiente para garantir o tetracampeonato.

No final, Schumacher cruzou a linha de chegada 0s982 à frente de Prost, com Hill compondo o pódio. Alesi, Karl Wendlinger e Martin Brundle completaram a zona de pontuação, enquanto J.J. Lehto, Pierluigi Martini, Christian Fittipaldi e Philippe Aliot fecharam o top-10.