GP da Cidade do México tem pneus como ponto-chave e caminha para embate tático

A Ferrari surgiu veloz no instante decisivo e cravou uma das poles mais inesperadas da temporada. E a explicação é simples: foi a única a encaixar uma volta quase perfeita, tirando proveito do melhor dos pneus. É por isso que o GP da Cidade do México deve repetir um roteiro já visto na semana passada. Ou seja, uma batalha em termos de estratégia e extremo cuidado com os compostos da Pirelli. A Red Bull e Max Verstappen, mesmo fora da primeira fila, seguem favoritos, mas nada está totalmente garantido

Apenas uma semana após saltar da pole nos EUA, a Ferrari foi capaz de repetir o feito e ir além. A escuderia italiana assegurou toda a primeira fila do GP da Cidade do México. Charles Leclerc foi o autor da volta mágica e larga da pole-position novamente, tendo agora o companheiro Carlos Sainz ao lado. A diferença entre os dois foi de ridículos 0s067. E ainda que, em Austin, a performance ferrarista tenha sido uma surpresa também, desta vez o desempenho até a definição das posições de largada esteve longe de convencer que havia uma chance real. Por isso, o resultado espanta tanto. Mas há uma explicação e que deve também permear a corrida deste domingo (29) no Hermanos Rodríguez.

O caso é que a Ferrari oscilou durante os treinos livres e não demonstrou um ritmo particularmente expressivo, mas quando a classificação começou aos carros vermelhos já apresentaram um desempenho mais forte. Tanto é que o monegasco lançou mão de uma prática pouco usual no Q1, quando decidiu sair com os pneus médios. A distância de Charles para o então líder Max Verstappen foi de apenas 0s3 — considerando que o holandês andava de macios. Ali foi a primeira evidência de que havia algo a mais entre os italianos. Mas aí a Ferrari sofreu uma ligeira queda de rendimento no Q2, o que reforçou a ideia de surpresa, no fim das contas.

Relacionadas

Então, na fase derradeira, o cenário se moldou àquilo que os ferraristas precisavam: encontrar a janela perfeita de funcionamento dos pneus. A SF-23 não sofreu o desgaste habitual e nem com o superaquecimento que atingiu boa parte do grid, incluindo o tricampeão taurino. Em resumo, deu tudo certo para Leclerc e Sainz, que precisaram apenas da primeira tentativa de volta rápida para garantir a primeira fila. Ninguém nos boxes italianos acreditou que era verdade, tamanha precisão dos eventos favoráveis à esquadra chefiada por Frédéric Vasseur.

Aliás, veio do dirigente francês a descrição mais adequada do que aconteceu com o Maranello neste sábado: "Fiquei estranhamente otimista depois da volta no TL3, quando tivemos de promover uma abordagem diferente, mas não estava tão otimista assim. Acho que é mais uma questão de pneu. Se você forçar muito, eles vão se desgastar muito. Estávamos mais focados na refrigeração e no ajuste fino dos freios e do motor porque estamos no México", disse Frédéric.

Charles Leclerc não escondeu a surpresa pela pole no México (Foto: AFP)

De fato, a altitude da Cidade do México é sempre um fator especial. As unidades de potência perdem desempenho naturalmente, então é preciso regular o trabalho do motor e promover um ajusto refinado do ponto de vista da carga aerodinâmica. Mas tudo isso tem uma ligação direta também com o comportamento dos pneus. E neste recorte, a Ferrari se deu muito bem. Entregou tudo na primeira parte do circuito e não perdeu performance no trecho final da pista, onde costumava sustentar um déficit grandes, e ainda manteve a temperatura ideal dos compostos macios, fruto de uma bela preparação de volta.

"Por algum motivo, uma vez que colocamos tudo junto, as coisas foram bem, e com os pneus novos, ganhamos muito", disse um surpreso Leclerc, que alcançou a 22ª pole-position na carreira. "Dois finais de semana seguidos em que não esperávamos isso. Eu não esperava estar na pole hoje", completou.

Enquanto isso, a Red Bull também foi pega de surpresa. Não só pelo salto da Ferrari na parte final da sessão classificatória, mas também por ela própria ter enfrentado mais problemas. Embora o cuidado com os pneus seja uma das principais características do RB19, desta vez nem tudo funcionou como o esperado. Verstappen cometeu alguns errinhos nas tentativas finais, mas o que pesou mesmo foi o superaquecimento dos pneus, especialmente na fase final do circuito mexicano. Max perdeu milésimos importantes ali, ainda que tenha se recuperado para ficar em terceiro, somente 0s097 atrás dos carros vermelhos.

"A aderência aqui é muito baixa, quando você força o ritmo um pouco mais, ela escapa, e isso aconteceu um pouco durante o Q3", explicou Verstappen. "Simplesmente não conseguimos nos recompor principalmente no último setor, tivemos mais problemas do que eu gostaria", admitiu.

Max Verstappen vai largar em terceiro no México (Foto: Red Bull Content Pool)

O #1 da Red Bull vai dividir a segunda fila do grid com um surpreendente Daniel Ricciardo, numa AlphaTauri que ensaiou voltar aos tempos em que era um foguetinho. Sergio Pérez aparece na sequência. E aqui está uma potencial vantagem dos taurinos. Isso por conta da longa reta depois da largada — até a primeira curva é quase 1 km. Portanto, o jogo de vácuo será dos mais interessante e uma forma também de pegar a Ferrari.

Portanto, a largada será fundamental para as ambições do conjunto austríaco. Há também outro ponto importante: o ritmo de corrida. É verdade que os energéticos possuem um ótimo ritmo, consistente, como de costume. Da mesma forma que aconteceu há sete dias, no Circuito das Américas, o jogo de estratégia vai definir o vencedor.

"É uma corrida longa e laro que gostaria de largar em primeiro, mas teremos uma chance até a curva 1. Além disso, sou o único que reservou dois conjuntos de pneus duros. Isso pode ser uma vantagem, então estamos preparados", completou o tricampeão.

A Ferrari, ao contrário, aposta nos pneus macios e médios para tentar driblar as rivais e partir para uma tática mais agressiva. "Vamos nos concentrar em nós mesmos. Tivemos um bom desempenho durante todo o fim de semana. Não tenho certeza se é suficiente para lutar pela vitória, mas faremos tudo o que estiver ao nosso alcance", afirmou Leclerc.

Ainda dentro de um jogo estratégico, há a Mercedes. A classificação foi também uma montanha-russa. Lewis Hamilton chegou a liderar a segunda fase da classificação, mas o dia foi mais complicado. O heptacampeão, inclusive, voltou a se queixar do carro, mesmo com as atualizações introduzidas em Austin e afirmou que é "um pesadelo". Ainda assim, o inglês largar sexto, enquanto George Russell sai duas posições depois.

"Tenho enfrentado dificuldades o fim de semana todo com o carro. Ele tem sido um pesadelo para guiar, simplesmente não gosta dessa pista. Não consegui extrair muito novamente. Acho que em um mundo perfeito eu poderia ter sido quinto", disse Lewis. "Fizemos algumas boas mudanças antes da classificação, fiquei muito mais satisfeito com o carro. Então, no Q1 e no Q2, não estávamos tão mal. Já no Q3, a segunda volta foi ótima, mas o carro é realmente instável", completou.

Embora o ritmo em volta única tenha sido mais complexo, as Flechas Pretas parecem ter um desempenho em condição de corrida bem melhor e mais consistente, ao menos foi o que a sexta-feira mostrou. Hamilton, porém, deixou a entender que a performance real ainda é cercada de incertezas. "Será um desafio real amanhã. “Estamos com superaquecimento, principalmente nos freios. Será muito difícil para a gente competir. Não sei que tipo de corrida teremos, mas será tudo no limite.

Lewis Hamilton é o melhor das Mercedes e sai em sexto (Foto: Mercedes)

De toda a forma, a Mercedes costuma encontrar o caminho das pedras no domingo. E quem também terá de pensar em alternativas é a McLaren. Apesar de Oscar Piastri ter se colocado entre Hamilton e Russell, a equipe laranja viveu um sábado difícil e de péssimas escolhas. Como a Ferrari e a esquadra alemã, também usou os médios no Q1 e pagou caro por isso. Lando Norris é só 19º. A tática de corrida será mais importante que nunca.

E deste ponto de vista, o GP da Cidade do México caminha para duas paradas, especialmente por causa da escolha da gama mais macia da Pirelli. Um pit-stop ainda será possível, mas diante de um extremo cuidado com os compostos. Até aqui ninguém se mostrou verdadeiramente forte nesse quesito, nem mesmo os atuais campeões, o que empresta á etapa mexicana o ar fresco da imprevisibilidade.

GRANDE PRÊMIO acompanha AO VIVO e EM TEMPO REAL todas as atividades do GP da Cidade do México de Fórmula 1. No domingo, a largada da corrida está marcada para as 17h (de Brasília, GMT-3). O GRANDE PRÊMIO ainda exibe classificação e a corrida em segunda tela, em parceria com a Voz do Esporteatravés da GPTV — o início das transmissões se dá 15 minutos antes das atividades.

▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
▶️ Conheça o canal do GRANDE PRÊMIO na Twitch clicando aqui!