Alpine exagera na ambição, se enrola em meta irreal e implode em meio a demissões

A Alpine começou 2023 sonhando em buscar a 'F1 A' e uma vaga no top-3 da categoria e vai para as férias com festival de demissões e à deriva na sexta colocação do mundial, sem qualquer perspectiva de melhora

A Alpine vive um 2023 da pior forma possível na F1: marasmo completo dentro das pistas, agito total fora delas. Em uma categoria que é praticamente só dela no grid, longe das ponteiras e também distante dos piores times, os franceses parecem apenas cumprir tabela na temporada. E isso é uma tremenda decepção.

Estamos aqui diante de um caso clássico de expectativa x realidade. Porque, sejamos honestos, qualquer um que acompanhe a F1 atentamente ano após ano saberia dizer que a Alpine, para 2023, ficaria entre a quarta e a sexta posições, certo? Então, a colocação atual é ruim, sim, mas ainda dentro da margem esperada. O problema é o que o próprio time projetou.

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Aquele papo de ser uma equipe constantemente vencedora em 100 corridas depois da troca de nome da Renault, o sonho de se consolidar como uma força da 'F1 A' e, quem sabe, beliscar uma Red Bull, Mercedes ou Ferrari, enfim, tudo isso já parecia ser uma furada, mas envelheceu como leite, claro, com exceção feita à surreal vitória de Esteban Ocon no caótico GP da Hungria, em 2021. O 2023 do time francês é um fiasco por este prisma.

Otmar Szafnauer foi demitido da Alpine e saiu durante fim de semana em Spa-Francorchamps (Foto: AFP)

Dá para dizer que essas projeções furadas e exageradamente otimistas indicam muito bem os problemas na Alpine. No fim das contas, é muita gente falando mais do que deve sem qualquer embasamento. E isso reflete diretamente no que acontece com a direção da equipe. Sim, estamos falando das constantes trocas no comando e da leva de demissões recentes.

Saindo um pouco do caos gerado por falastrões e pela falta de comando, olhemos um pouco para a pista. Claro, é impossível dissociar uma coisa da outra, mas vamos lá: a performance, falando só de velocidade, carro e tudo mais, não é muito diferente das anteriores.

A verdade é que, desde que voltou à F1, a faixa que a Renault/Alpine ocupa é essa aí mesmo. Mesmo em 2022, quando os azuis fecharam no quarto lugar, a performance não era muito diferente: ótimos pilotos, um carro relativamente rápido e nem tanto confiável, algumas chamadas estranhas na tática, alguns azares. Parecido com 2023, não? O que mudou foi o desempenho das rivais diretas.

Pierre Gasly faz ano de estreia bem decente na Alpine (Foto: Alpine)

A Aston Martin chutou a porta e escalou o pelotão com um modelo muito parecido com a Red Bull do ano passado, enquanto a McLaren, que iniciou o ano bem estranha, achou a atualização dos sonhos e também atropelou a Alpine. Dificilmente os franceses vão pegar alguma delas ainda em 2023. Assim como não devem ser alcançados, tamanha a ruindade de Williams, AlphaTauri, Alfa Romeo e Haas.

Com direito a 'técnico interino' e tudo, a Alpine, depois das saídas do chefe Otmar Szafnauer e do CEO Laurent Rossi, além de outros dois importantes diretores, se arrasta em meio ao caos completo. E o pior de tudo é que lá estão dois ótimos pilotos, com potenciais grandes, mas sem um time ao redor.

Ocon e Pierre Gasly, aliás, fazem a parte deles em 2023. Ocon tem mais pontos, mas Gasly demonstra mais velocidade constantemente. É uma briga boa entre dois antigos amigos, depois antigos desafetos e que, hoje, são apenas vítimas do ambiente que vivem. E que não escondem a decepção com o que está rolando.

“Não houve o progresso que todos gostaríamos. Obviamente, acabei de entrar tem seis meses, não sei qual era a realidade do time. São muitas mudanças para mim, chegar na equipe e contar com pessoas novas e tudo mais. Todo mundo precisa sentar e processar o que aconteceu, se atualizar, e começar do zero em Zandvoort”, admitiu Pierre.

Esteban Ocon lidera a Alpine na F1 2023 (Foto: Alpine)

“Pessoalmente, tenho de me concentrar no que faço na pista e tentar trazer o melhor que posso de cada sessão. É nisso que tenho focado. Obviamente todos estão decepcionados com o início do ano, não estamos bem como deveríamos”, finalizou.

Tamanha é a baderna que vive a Alpine que os ex-chefes já estão saindo por aí falando tudo que querem. Szafnauer e até Cyril Abiteboul, de trabalhos extremamente contestáveis, foram duríssimos nas palavras que usaram para definir a situação dos franceses.

“O plano de quantificar 100 GPs… Por que não 120, ou 80? Não entendo. Quando você começa a apresentar um plano como esse, com certeza errará porque não sabe o que os outros estão fazendo na F1. Os investimentos colossais da Aston Martin, o incrível impulso da Red Bull, nada disso vai parar só porque o 99º GP de Laurent Rossi está chegando”, disse Cyril, para dar um exemplo das declarações dos ex-membros da esquadra.

Fato é que todo mundo tem direito de falar o que quiser e a Alpine, ou quem ainda está lá no comando, precisa ouvir. O time se perdeu totalmente, se enroscou em ambições enormes e simplesmente implodiu. Agora é trabalhar para 2024, mas, especialmente, arrumar a casa e tentar o mínimo de estabilidade e pés no chão. Mesmo que seja com Mattia Binotto na chefia. Do jeito que está, vai ser meio de tabela para sempre.

Fórmula 1 entrou de férias e retorna somente no fim de agosto, entre os dias 25 e 27, com o GP da Holanda, em Zandvoort, 12ª etapa da temporada 2023. E o GRANDE PRÊMIO acompanha tudo.

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