Na Garagem: Hinchcliffe supera Sato no fim e vence última prova da Indy em São Paulo

Há 10 anos, em corrida emocionante, James Hinchcliffe ultrapassou Takuma Sato poucos metros antes da linha de chegada e conquistou a vitória. Esta foi a última etapa da Indy, até então, realizada em São Paulo e no Brasil

A Indy se solidificou como uma categoria na qual o calendário é formado, majoritariamente, por provas em circuitos dos Estados Unidos e do Canadá. Mas houve um período em que a intenção era expandir o mercado, e a popularidade dos pilotos brasileiros chamou a atenção de alguns grupos de comunicação, que bancaram a ideia de um GP no Brasil. O primeiro, nos anos 90, aconteceu em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, com grande audiência na transmissão do SBT. Já o segundo, em São Paulo, foi promovido no Sambódromo do Anhembi.

A prova na capital paulista consistia em um circuito de rua, de 75 voltas, que reunia o sambódromo e as vias ao redor: a Marginal do Tietê, com uma reta de 1,8 km, e a Av. Olavo Fontoura. Quem bancava a realização era o Grupo Bandeirantes e assim se deu até 2013, quando aconteceu no dia 5 de maio — portanto, há 10 anos — o último São Paulo Indy 300, vencido pelo canadense James Hinchcliffe. No ano seguinte, a bomba explodiu: sem dinheiro, a Band deixou de patrocinar o evento, que foi cancelado e saiu do calendário da Indy.

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Mas antes de detalhar o fim, é importante relembrar como foi a corrida há 10 anos, marcada pela emoção das últimas voltas e pela frustração dos pilotos brasileiros. A primeira a se decepcionar foi Bia Figueiredo, cinco voltas após a limpa largada na qual Ryan Hunter-Reay manteve a liderança. O carro #18 da Dale Coyne enfrentou problemas mecânicos e ficou lento na pista, tendo de ser guinchado para os boxes. Fim de prova.

Bia Figueiredo abandona a corrida após carro ter problemas mecânicos (Vídeo: Reprodução / Indy)

Na relargada, Tony Kanaan mostrou a que veio e ultrapassou Dario Franchitti e Hunter-Reay para assumir a primeira colocação. O público presente no Anhembi vibrou e sentiu que o baiano da KV reunia possibilidades de vencer em casa. Ainda mais com Will Power, o favorito, precisando fazer uma corrida de recuperação após largar em 22º e, de quebra, tendo de enfrentar um incêndio no assoalho quando estava próximo de alcançar o top-10.

Hélio Castroneves não teve vida fácil. Por diversas vezes o então piloto da Penske escapou da pista, teve problemas com os concorrentes e foi acertado duas vezes — uma por Scott Dixon e outra por Sébastien Bourdais. O resultado disso foi uma corrida infernal para o dono do carro #3, que chegou a cair para o último lugar e passou o restante da prova batalhando pela reação.

Enquanto isso, lá na frente, Kanaan, Hunter-Reay e Takuma Sato brigavam de forma ferrenha pela liderança. O brasileiro parecia impetuoso para conseguir a vitória. Porém, a KV estragou tudo com um erro de cálculo no combustível, que fez o carro #11 enfrentar uma pane seca e parar caprichosamente em cima da linha de chegada, quando faltavam 24 voltas. O soteropolitano, claro, levou as mãos à cabeça, lamentou a chance desperdiçada de vencer diante de sua torcida e concretizou a tarde ruim dos brasileiros.

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Pane seca do carro #11 faz Tony Kanaan abandonar o GP de São Paulo da Indy em 2013 (Vídeo: Reprodução / Indy)

Mas ainda havia corrida no Anhembi. As bandeiras amarelas (foram sete ao longo do dia) e as relargadas embaralharam novamente o grid e Sato assumiu a ponta, acompanhado por Josef Newgarden em segundo, Simon Pagenaud em terceiro e, finalmente, Hinchcliffe em quarto. Estava desenhada a espetacular briga que marcou as últimas voltas do São Paulo Indy 300 de 2013.

De início, Sato e Newgarden travaram uma briga ferrenha. O então piloto da Fisher Hartman, com dificuldades para ultrapassar, esgotou todo o seu push-to-pass. Logo atrás, Hinchcliffe pulou para terceiro e se aproximou da luta pela liderança. O canadense também não tomou conhecimento de Newgarden e foi para segundo.

A partir daí, o que se viu foi uma disputa, palmo a palmo, pela vitória. Nas voltas 73 e 74, o japonês fechou a porta para o adversário, de forma agressiva, mas limpa. Ficou tudo para a última volta. Hinchcliffe fez uma nova tentativa por fora e Sato repetiu a manobra de defesa, mas travou os pneus. O canadense, então, fez o xis, colocou por dentro e pisou fundo para assumir a primeira colocação quando restavam alguns metros.

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A incrível última volta do GP de São Paulo da Indy, em 2013, que coroou James Hinchcliffe (Vídeo: Reprodução / Indy)

Ainda teve tempo para mais uma emoção: Pagenaud perdeu o gás e caiu para nono, então o arrojado Andretti cresceu, ultrapassou Newgarden e completou o pódio em São Paulo. Castroneves, o único brasileiro que sobreviveu até a linha de chegada, terminou em 13º e a 11s123 do vencedor.

Era o fim de uma corrida histórica, memorável e, infelizmente para os brasileiros que são fãs da Indy, a última até então em solo verde-e-amarelo. A empolgação de uma etapa recheada arrefeceu junto à crise do Grupo Bandeirantes, que contratou uma auditoria independente, a McKinsey, para promover um enxugamento em seu quadro de funcionários. Muitos saíram. Muito investimento foi cortado.

Tão logo o contrato com a auditoria foi assinado, a Band informou tanto a Indy, quanto a Prefeitura de São Paulo, que não bancaria a realização em 2024. O prefeito Fernando Haddad (PT), quando questionado sobre a manutenção do evento pelo repórter Gabriel Carvalho, do GRANDE PRÊMIO, disse que estava "vendo com a Bandeirantes ainda, temos tempo".

A Indy chegou a usar o Anhembi para correr em um circuito de rua entre 2010 e 2013 (Foto: Reprodução)

Havia tempo, mas não quem investisse — ainda que algumas alternativas tenham sido estudadas. Em 2015, por exemplo, Brasília estava no cronograma, mas o autódromo não tinha condições de receber um evento e com isso, meses antes, a corrida foi cancelada. Já em fevereiro de 2019, Mark Miles garantiu que o Brasil só voltará ao calendário "quando a economia estiver boa", o que ele não via acontecendo no curto prazo.

Quatro anos depois da declaração do chefão da Indy, ainda não há qualquer conversa de retorno dos circuitos brasileiros ao programa da categoria. Portanto, a última vez segue sendo a grande vitória de Hinchcliffe em maio de 2013. Pelo menos a última memória, até então, é muito boa.