Martins paga por inexperiência, mas coloca Pourchaire contra parede na Arábia Saudita

Théo Pourchaire e Victor Martins provaram que, no momento, são a melhor dupla do grid da Fórmula 2 2023. Só que os dois podem tropeçar nas próprias pernas se não controlarem a afobação na pista — como aconteceu em Jedá

A rodada da Arábia Saudita da Fórmula 2 começou a trazer algumas respostas às questões levantadas na etapa de abertura, no Bahrein. E a principal é que, sim, a ART conseguiu entregar um equipamento muito bom para a sua dupla de pilotos, formada pelo atual vice-campeão Théo Pourchaire e o estreante — e campeão da F3 2022 — Victor Martins. Mas ambos mostraram tanto na corrida sprint quanto na principal em Jedá que, apesar de serem muito talentosos, correm o risco de tropeçarem nas próprias pernas durante a temporada.

Martins e Pourchaire chegaram na Arábia Saudita com um pódio cada — o primeiro com o terceiro lugar na sprint e Théo graças à vitória na corrida principal. De quebra, ainda dominaram a classificação barenita, com Pourchaire colocando nada menos do que 0s7 sobre Martins.

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Victor Martins cometeu um erro bobo em Jedá que lhe custou a vitória (Foto: F2)

Era de se esperar, portanto, que a performance se repetisse no traiçoeiro circuito saudita, e coube ao novato comandar a sessão que definiu o grid de largada. A distância para o mais experiente — que fez o terceiro tempo por mísero 0s001 — foi os mesmos 0s7, e a pergunta que começou a ser feita era quem teria fôlego para bater o duo francês.

Pois não foi nem Carlin, nem Prema, nem MP, nem DAMS ou qualquer outra equipe. Pourchaire e Martins sucumbiram pela mesma razão: a pressa, cada um à sua maneira. Na corrida curta de sábado, Théo tentava abrir caminho e tinha justamente o companheiro de equipe à sua frente, em sexto, ainda na volta 6. O jovem de 19 anos, então, foi decidido a fazer a ultrapassagem e colocou o carro por dentro ao final da reta principal, para fazer a curva 1 na frente. Só que não percebeu que Oliver Bearman também estava por ali e acertou o piloto da Prema em cheio na segunda perna do S.

Foi uma manobra tão absurda que Pourchaire pediu desculpas diversas vezes a Bearman ainda na pista. Desolado, nem sequer tirou o capacete quando desceu do carro.

Nessa corrida em especial, Martins brilhou, assim como Ayumu Iwasa, que deu uma aula de pilotagem defensiva e segurou bem o arrojo do novato. Na veloz pista árabe, porém, foi o francês de 21 anos que colocou as cartas na mesa e mostrou que Pourchaire não teria vida tão fácil em seu terceiro ano de F2.

E Martins foi novamente disposto a mais uma apresentação de gala, dessa vez na corrida principal. Na largada, porém, Bearman, a vítima da patacoada de Pourchaire, partiu melhor e fechou a primeira curva na frente.

O momento em que Pourchaire vai com toda sede ao pote para ultrapassar Martins e acerta Bearman (Vídeo: Reprodução/F1 TV)

Foi quando começou a busca desenfreada de Victor pela vitória. Na primeira tentativa de recuperar a liderança, usou o lado externo da curva para ganhar a posição e teve de devolvê-la para não ser punido. Na segunda, foi ao limite contra um arrojado Bearman e escapou da mão pesada dos comissários, que chegaram a investigar se o piloto da ART não havia forçado o da Prema para fora deliberadamente.

No meio do caminho, Frederik Vesti acabou se metendo na briga e deixando Bearman para trás. Com um ritmo forte, o dinamarquês foi tirando décimo a décimo até chegar a uma distância que possibilitaria a abertura da asa móvel, mas não foi necessário: Martins passou da conta, perdeu a traseira e rodou.

Vesti cruzou a linha de chegada em primeiro e só não liderou a dobradinha da Prema porque instantes antes da rodada de Martins, Bearman cometeu o mesmo erro. Mas ao contrário do francês, que abandonou a corrida, o britânico conseguiu retornar para a prova, marcando um ponto. A performance da equipe italiana, no entanto, dá a impressão de que o time pode buscar um resultado melhor que o do ano passado, quando terminou o campeonato apenas em quarto.

Agora, erros à parte, verdade seja dita: se Pourchaire não fizer valer a experiência para cima do novato em momentos nos quais valerão muito mais os pontos, corre o risco de ser vice de novo. O Bahrein mostrou o quanto Théo só dependerá dele mesmo para usar do mesmo trunfo de Felipe Drugovich no ano passado. Só que Martins está na cola e será o primeiro a se beneficiar de um vacilo.

Em tempo: Enzo Fittipaldi voltou aos tempos de Charouz e fez uma ótima corrida de recuperação, mas o carro da Carlin ainda deixa muito a desejar em ritmo de classificação, prejudicando completamente o fim de semana dos seus pilotos. Na corrida principal, a estratégia mais uma vez ajudou o brasileiro, que cruzou a linha de chegada em sétimo. Porém, ainda é pouco, muito pouco frente a uma ART que tem, até aqui, a melhor dupla do grid e uma Prema ascendendo.