Iwasa sobrevive ao caos na Austrália e embola briga na F2. Fittipaldi tem de recalcular rota

Ayumu Iwasa pareceu ter disputado uma corrida à parte no caos australiano da F2. Enzo Fittipaldi, por exemplo, bateu duas vezes e já vê as intenções de título seriamente ameaçadas se não conseguir rodadas consistentes a partir de já

Nada como uma pista completamente nova no meio do caminho para começar a trazer algumas respostas sobre a temporada 2023 da Fórmula 2. A primeira delas é que, sim, a ART tem um ótimo carro nas mãos, mas corre sério risco de ficar a ver navios nas mãos da sua talentosa, porém inconsistente dupla, formada pelo veterano Théo Pourchaire e o novato Victor Martins. E a outra é que, em meio a tantos novatos sedentos para mostrar serviço, a experiência pode mais uma vez fazer a diferença no campeonato.

Isso porque Ayumu Iwasa pareceu ter disputado uma corrida à parte no caótico domingo em Albert Park, ainda noite de sábado no Brasil. Mas a incontestável vitória do japonês da DAMS começou a ser construída debaixo do temporal que resolveu testar ainda mais o jovem grid da F2 na classificação. Com a pole-position assegurada, o #11 praticamente virou o homem a ser batido, já que, das então três vitórias conquistadas na F2 até aquele momento, duas vieram após partir da primeira fila.

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Enzo Fittipaldi teve uma rodada muito complicada e já começa a ver as intenções de título ameaçadas (Foto: Dutch Photo Agency)

Iwasa estreou na categoria no ano passado e por sete pontos não ficou com o título de 'rookie do ano' (Sargeant foi o melhor novato). Mesmo assim, teve momentos de destaque, como as duas vitórias nas corridas principais da rodada da França e Abu Dhabiesta última, depois de se defender bem de Felipe Drugovich —, e ainda ganhou elogios do chefe da Red Bull, Christian Horner.

Para 2023, Ayumu foi apontado pelo CEO da F2, Bruno Michel, como um dos candidatos ao título e, ao menos após as três primeiras rodadas do campeonato, mostrou que é o piloto que mais pode incomodar a dupla da ART, sobretudo Pourchaire — que escapou de um completo desastre na Austrália com o pódio na corrida principal. Sua pilotagem segura quando está na liderança é o seu grande trunfo.

"Eu só queria uma vitória [na rodada]. Além disso, queríamos melhorar como equipe, então, juntos, estamos tentando melhorar o carro e o nosso desempenho. É por isso que tivemos um pódio duplo na corrida principal. Como equipe, são pontos muito bons", avaliou Iwasa após o domingo, referindo-se ainda ao terceiro lugar de Arthur Leclerc, que ajudou a colocar a DAMS na liderança entre os times, 24 pontos a mais que a ART.

Se Iwasa sai da Austrália fortalecido, Enzo Fittipaldi ainda vai precisar de um tempo para digerir o que aconteceu. É preciso, porém, destacar que uma das metas do brasileiro para Melbourne quase foi alcançada: classificar no top-10. Quando vinha em volta rápida e com parciais para ficar bem próximo dos ponteiros, a bandeira vermelha causada pela batida de Martins a menos de três minutos do final trouxe o encerramento precoce da sessão.

Não havia nada para ser feito, e Enzo teve de alinhar em 16º. Mas o quinto lugar do companheiro de equipe, Zane Maloney, mais o seu próprio ritmo antes da interrupção davam sinais de que a Carlin havia cumprido a meta de melhorar em classificação — pelo menos com pista molhada, funcionou.

Só que o restante do fim de semana foi para esquecer. O erro ainda na volta de instalação o fez perder a chance de largar para a sprint. Na corrida principal, quando estava em 14º, apostou em permanecer na pista no safety-car causado por Jak Crawford ainda na volta 7, enquanto o pelotão da frente aproveitou a intervenção para realizar a troca obrigatória.

O movimento fez Fittipaldi automaticamente pular para a frente, mas a vantagem seria destruída quando tivesse de parar. Fora que, quanto mais tempo permanecia com os pneus desgastados, mais a zona de pontuação era ameaçada. Na volta 27, Roy Nissany bateu forte no muro e trouxe mais um safety-car.

O #4 da Carlin, então, realizou sua parada e retornou para a 14ª posição, mas uma nova escapada — possivelmente pela borracha ainda fria — fez o piloto rodar pouco depois da saída do pit-lane. Na tentativa de manobrar para voltar à corrida, deu um leve toque no muro que foi suficiente para comprometer a roda traseira direita. Resultado: mais uma pancada ao retomar a aceleração.

A rodada zerada deixou Enzo com os nove pontos conquistados até a Arábia Saudita, mas a distância para o agora líder Iwasa já é de 49 tentos. Fittipaldi também saiu de Melbourne 20 pontos atrás de Maloney, que dessa vez conseguiu pontuar nas duas corridas. Há muito em jogo ainda, é verdade — 429 pontos, para sermos mais exatos —, mas considerando que Drugovich reassumiu a liderança da temporada passada na quarta etapa para de lá não sair mais, Enzo começa, sim, a ver as intenções de título seriamente ameaçadas se não conseguir fins de semana consistentes já.

O campeonato da Fórmula 2 é equilibrado, sem dúvida. Há, no mínimo, cinco ou seis nomes com potencial de título, se analisarmos puramente a performance individual. Mas o que se viu na Austrália já desenha um futuro nada animador para quem torce para ver o Brasil novamente no topo da categoria ao final deste ano.