Na Garagem: Massa vence no Brasil, mas Hamilton passa Glock e é campeão pela 1ª vez

Felipe Massa conseguiu reverter a desvantagem que tinha para Lewis Hamilton com a vitória em Interlagos e comemorou o título mundial de F1. Por 23s. Aí o inglês respondeu ao passar Timo Glock na última volta e ficou com sua primeira conquista

O GP do Brasil de 2008 estava marcado no calendário como última etapa daquela temporada e, portanto, havia uma enorme chance de definir o campeonato. Mas foi mais do que isso. Quando McLaren e Ferrari começaram a trocar golpes e decidiram por trabalhar para um de seus pilotos, Lewis Hamilton e Felipe Massa começaram a disparar. Trocaram momentos na liderança, mas quem chegou ao Brasil na primeira colocação foi o piloto inglês. Hamilton tinha 7 pontos a mais, mas o que ia se desenrolar em Interlagos era um dos momentos inesquecíveis da história da Fórmula 1. E que ainda repercute.

Após abandonar as duas primeiras corridas do Mundial, Massa liderou o campeonato somente após a vitória na França. Hamilton foi quem teve a dianteira na maior parte do ano. Durante o ano os outros rivais foram ficando para trás. A Ferrari, já que Massa tinha vantagem, optou por fazer com que Kimi Räikkönen trabalhasse para ele, ao passo que Robert Kubica, na BMW, não tinha carro para acompanhar até o fim.

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Na penúltima etapa, na China, Hamilton partiu da pole-position para a vitória e viu Massa sair de terceiro para segundo sem muita resistência do companheiro de equipe. O inglês ia para a decisão com 94 tentos contra 87 de Massa. Apenas os dois podiam terminar a corrida em Interlagos, naquele 2 de novembro, há exatos 15 anos, com a conquista. A F1 teria um novo campeão.

A corrida

A atmosfera em Interlagos era de otimismo. O motivo era simples: pela primeira vez um piloto brasileiro podia se sagrar campeão em casa. Além do mais, desde Ayrton Senna, em 1991, o Brasil não comemorava um título mundial de um dos seus.

Uma das protagonistas do dia, a chuva, deu as caras minutos antes da largada no domingo. Todos os pilotos foram para a largada de pneus de chuva extrema ou intermediários na pista molhada. Massa partiu bem e seguiu na ponta. Ainda na primeira volta, um dos momentos-chave da etapa: Nelsinho Piquet perdeu o controle do carro, rodou e acertou a barreira de pneus. A pancada forçou a entrada do safety-car ainda ao fim da primeira volta.

Felipe Massa venceu o GP do Brasil em 2008, mas não ficou com o título (Foto: Ferrari Media)

Depois da pancada de chuva inicial, a pista começou a secar. As trocas de pneus começaram ainda durante as quatro voltas com pneus para pista seca. Massa e Hamilton seguraram alguns giros a mais, mas também entraram. Com pneus slick, Massa voava na pista e era acompanhado apenas por um avassalador Sebastian Vettel, então piloto da Toro Rosso que vinha de vitória no GP da Itália.
Massa voltou aos boxes na volta 38 para mais uma rodada de pit-stops, duas voltas antes do rival inglês. Hamilton, aliás, era o quarto colocado e se via ainda com alguma vantagem para aquilo que tinha de fazer para confirmar a conquista. Enquanto o brasileiro abria, Hamilton sofria. Mais rápido e já com combustível suficiente para ir até o final da prova, Vettel começou a pressionar pelo quinto posto.

A chuva voltou a aparecer na 63ª das 71 voltas e imediatamente começou a gerarcaos. Segundo e terceiro colocados, Alonso e Räikkönen optaram por colocar pneus intermediários. Hamilton e Vettel, que já batalhavam pelo quarto posto, entraram também – e juntos. Massa aproveitou a ampla vantagem que tinha após os rivais pararem e também entrou, por segurança, para pôr os intermediários na volta 67.

Se o que se mostrava de chuva aparecia como um problema grave, a questão se tornou ainda mais forte conforme ela se tornou torrencial para as últimas quatro voltas. Havia, no entanto, um nome a mais na disputa: Timo Glock. O alemão da Toyota optou por não trocar de pneus e continuava na pista para arriscar ganhar posições com pneus de pista seca no molhado. A briga entre Hamilton e Vettel era agora pelo quinto posto.

Após jogar o título de 2007 fora com erros inacreditáveis, Hamilton apontou na direção de repetir o feito em 2008. Errou a mão na curva da Junção, passou fora do traçado correto e permitiu que Vettel tomasse o quinto posto.

Com duas voltas para o fim, a vitória de Massa era inevitável. Os mais de 13s de frente se converteram em vitória. Com a Ferrari e a família Massa em polvorosa e a McLaren em desespero, Felipe recebeu a bandeirada que confirmou o triunfo no GP do Brasil de 2008. O primeiro título de um piloto brasileiro em 17 anos estava próximo.

Massa era campeão. E foi assim durante exatos 23 segundos. Glock se mantinha em quarto, mas mal se segurava na pista com os pneus de pista seca. Brigando com a máquina para tentar marcar pontos, não segurou Vettel. E também não aguentou Hamilton, que assumiu a quinta colocação e voltou a ter o troféu nas mãos.

Lewis Hamilton conquistou o primeiro título na F1 de forma dramática e no Brasil, em 2008 (Foto: AFP)

No pódio, Massa foi às lágrimas. A vitória em Interlagos havia sido categórica, mas não o suficiente para a conquista maior: faltou somente 1 ponto. Felipe terminou o campeonato com seis vitórias contra cinco de Lewis e foi o primeiro piloto desde Senna em 1989 a perder o título mesmo tendo mais vitórias.

15 anos depois…

O campeonato de 2018 ainda é bastante comentado. E não exatamente pela etapa no Brasil, mas pelo GP de Singapura, onde aconteceu o famoso Crashgate. Em meio ao começo da crise econômica que sacudiu o mundo naquela parte final dos anos 2000, havia a ameaça real de que a Renault abandonasse a Fórmula 1 ao término da temporada 2008 caso a equipe, que fora bicampeã em 2005 e 2006, não vencesse ao menos uma prova. Assim, a decisão foi tomada pelo chefe Flavio Briatore, de que a vitória deveria vir em Singapura, única pista onde havia alguma chance, ainda que remota. Depois de Fernando Alonso sofrer na classificação e ficar com a 15ª posição no grid, a ordem foi dada, com ajuda ainda do diretor-técnico Pat Symonds: Alonso faria estratégia diferente e pit-stop cedo na corrida, enquanto o então novato Nelsinho Piquet teria de bater em parte específica do traçado para causar safety-car em momento pré-combinado.

Tudo isso aconteceu e abriu a porta para Alonso vencer a corrida — o bicampeão sempre garantiu não saber do esquema e foi absolvido após investigação do Conselho Mundial da FIA. No caminho, Massa, que partia na trilha da vitória após anotar a pole no dia seguinte, viu a estratégia arruinada. A coisa pioraria quando, na ida aos boxes pós-safety-car, a Ferrari trocou os pés pelas mãos e liberou Felipe para voltar à pista ainda com a mangueira de reabastecimento presa. Massa precisou parar no fim do pit-lane, esperar mecânicos da Ferrari chegarem correndo para ter a mangueira finalmente sacada. Ainda foi punido pelo lance e precisou voltar aos boxes pouco depois. Ficou, assim, na 13ª posição e fora dos pontos. No fim do campeonato, perdeu o título para Lewis Hamilton por 1 único tento.

Felipe Massa aguarda respostas da F1 e F1 (Foto: Ferrari)

Bernie Eccleston, chefão da Fórmula 1 em 2008, deu uma entrevista para o portal alemão F1-Insider onde garantiu: sabia de tudo. E foi isso que reacendeu a discussão sobre um campeonato histórico, sim, mas que aconteceu 15 anos atrás.

“Max Mosley [então presidente da FIA, já morto] e eu fomos informados do que acontecera em Singapura durante a temporada 2008. Piquet contara para o pai, Nelson, que recebera o pedido da equipe de bater propositalmente no muro em determinado momento para forçar uma intervenção do safety-car e, assim, ajudar o companheiro de equipe Alonso”, contou. “Decidimos não fazer nada naquele momento. Queríamos proteger o esporte e evitar um escândalo. Foi por isso que falei, com uma língua de anjo, para meu antigo piloto Nelson [Ecclestone foi chefe de equipe de Piquet na Brabham, nos anos 1980], para manter a calma inicialmente”, revelou.

Com as novas informações em mente, Massa juntou um time transnacional de advogados de diferentes especialidades: profissionais do Brasil, Inglaterra, França e Suíça estão envolvidos. A busca é por conquistar o objetivo: reconhecimento de que Massa é, de fato, o campeão mundial de 2008. Felipe ainda aguarda respostas da F1 e FIA.

“No final, teve muitos pontos no meio, e a gente sabia que tinha uma regra que dizia que quando um piloto recebesse um título, o resultado não poderia ser mais mudado. Eu sabia dessa regra, confiei na Ferrari também, nos advogados da Ferrari, e ficou por aí. Aí de repente, agora, 15 anos depois, a gente ouve uma situação completamente diferente, onde os chefes da categoria, como Ecclestone, Max Mosley, Charlie Whiting [ex-diretor de prova] sabiam disso em 2008 e não fizeram nada para não riscar o nome da Fórmula 1. Então isso mostra que, no final, a pessoa que mais saiu perdendo com tudo isso, numa manipulação, numa sacanagem, fui eu. Então, foi o que aconteceu, e nós vamos lutar para que a gente tenha uma justiça”, disse o piloto em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO.

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