Hungria é chance final para Ferrari mostrar que ainda é competitiva em algum lugar

A Ferrari está perdida em algum lugar de Mônaco depois da festa pela vitória nas ruas de Monte Carlo. Do ponto de vista técnico, a coisa parece ainda mais grave: a equipe desaprendeu a andar em trechos de alta velocidade

"Minimiza", "aceita" e "quiques" são, muito provavelmente, os termos que mais vão aparecer se alguém fizer aquela nuvem de palavras relacionadas à Ferrari no último mês. A equipe virou o fio, no pior sentido da expressão, justamente depois de vencer em Mônaco. É como se vivesse uma ressaca permanente agora.

Voltando ao começo do campeonato, chega a ser assustador ver no que a Ferrari se transformou. É claro que as evoluções de McLaren e Mercedes têm participações importantes na queda de resultados dos italianos, mas está longe de ser só isso. Bem longe.

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Em um início de temporada que parecia fadado a ter mais um domínio avassalador da Red Bull, a única que tinha algum aspecto promissor ali era a Ferrari. A vitória logo na terceira corrida, na Austrália, aliás, corroborou com isso e empolgou. O motivo era simples: o carro tinha nascido bem e a equipe vinha se especializando por abordagens corretas de cada uma das etapas.

Isso foi, inclusive, corretamente exaltado por Frédéric Vasseur no trecho de abertura da disputa, quando o dirigente explicou que, muito mais do que em atualizações, a Ferrari trabalhava fim de semana a fim de semana, nos ajustes necessários para cada tipo de pista, para cada tipo de condição. E deu bastante certo até Mônaco.

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Frédéric Vasseur, merecidamente elogiado no começo do ano, tem sido pressionado (Foto: Ferrari)

Olhando apenas para resultados e performances, sem analisar tecnicamente o que está acontecendo, fica parecendo que o GP de Mônaco foi um 'all-in' dos vermelhos, mas não é bem assim. A corrida de rua em Monte Carlo foi um reflexo preciso do que viria a seguir: as atualizações, tão cautelosamente planejadas por Vasseur, simplesmente jogaram o carro para uma direção totalmente diferente e transformaram o perfil da SF-24.

O carro vermelho perdeu completamente a força em curvas de alta e hoje é um bólido que só se comporta bem em trechos bem travados. Os pacotes novos fizeram, inclusive, a Ferrari reencontrar um velho pesadelo: os quiques. Em pleno 2024. Resumidamente, de forma grosseira, é um carro que faz força para ser rápido atualmente.

Nas últimas quatro corridas, desde o fim de semana dos sonhos em Mônaco, a Ferrari só foi ao pódio uma vez e sem mérito técnico algum: na Áustria, quando Max Verstappen e Lando Norris colidiram e abriram caminho para Carlos Sainz ficar em terceiro. Os problemas são tantos que, depois de algum tempinho de negação, o time foi lá e 'desatualizou' o carro apenas para deixar de quicar na Inglaterra. Coisa triste de ver.

Em meio ao momento turbulento em que claramente é a quarta força atual em termos de performance, a Ferrari ainda lida com uma fase bastante ruim de Charles Leclerc, que novamente aparenta sentir o golpe de uma perda de ritmo do time, como aconteceu já algumas vezes nos últimos anos. Sainz, por sua vez, vive bom momento e é quem tem salvado os resultados menos piores atualmente.

Charles Leclerc caiu de rendimento junto com a Ferrari (Foto: Ferrari)

E aí, no meio disso tudo e de uma necessidade gritante de encontrar uma fórmula mágica que faça o time voltar a ser competitivo e ter a mão do carro para retomar os bons ajustes corrida após corrida, surge o GP da Hungria, uma verdadeira chance de ouro para Maranello.

O Hungaroring é das pistas mais fascinantes do calendário. Dos traçados permanentes, o que tem características únicas, mais travado, muito técnico, que exige realmente perícia especial dos pilotos. E que pode ajudar a Ferrari, pois.

Assim como o Red Bull Ring, tem cara de 'kartodromão', mas com outro estilo: o da Áustria seria um mais moderno, o da Hungria, um mais raiz. Fato é que a Ferrari precisava de uma pista assim, como também vai ser em Singapura, por exemplo, mais tarde. Mas tem de se provar.

Em meio ao princípio de crise e em paralelo ao trabalho de fábrica, a Ferrari encara uma decisão na Hungria, afinal, tem a chance de provar que ainda pode ser competitiva em algum lugar. Caso a pasmaceira continue e o time saia de lá quarta força, aí o negócio fica bem mais sério e o diagnóstico a respeito do que falta no carro pode mudar radicalmente.

Seria, na prática, fim da linha em 2024 para aquela que ainda é a vice-líder dos Construtores.

Fórmula 1 continua a temporada 2024 neste fim de semana, entre os dias 19 e 21 de julho, em Hungaroring, com o GP da Hungria.

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