Ferrari surpreende com pole, mas GP dos EUA vai exigir tática e extremo cuidado com pneus

Charles Leclerc tirou um coelhão da cartola ao cravar uma inesperada pole para a Ferrari nos EUA. No entanto, o formato sprint e o calor excessivo que paira sobre Austin vão exigir mais das equipes. Será como um grande jogo de tabuleiro no ardiloso Circuito das Américas

Uma vez mais, a Fórmula 1 entregou equilíbrio em uma das sessões de classificação mais divertidas da temporada 2023. E isso se deve a dois fatores principais, desta vez: o formato sprint e a singularidade do Circuito das Américas, palco do GP dos EUA. Mas entram na conta também um raro erro do tricampeão Max Verstappen, além de um passo à frente de Ferrari, Mercedes e McLaren. em termos técnicos. Tudo isso somado resultou em uma oportunidade muito bem aproveitada por Charles Leclerc. Agora, a corrida de domingo vai exigir um pouco mais.

Antes de tudo, porém, é importante falar da Ferrari. A verdade é que a equipe italiana surpreendeu em Austin, especialmente porque suas oponentes, sobretudo a Red Bull, estavam também muito fortes. Ainda, o ardiloso traçado com retas e curvas de alta velocidade não é exatamente o melhor cenário para os italianos. E mesmo que tenham como ponto forte o ritmo de classificação, a decisão do grid revelou um Leclerc mais perto daquilo que ele mesmo tem como grande característica. Ou seja, a performance em volta única. O monegasco foi perfeito, construiu um giro sem erros, tirando proveito de todos os espaços, por isso acabou até tomando um susto quando o engenheiro entrou no rádio e falou sobre os temidos limites de pista. Felizmente, para ele, esses problemas eram de outro — no caso, Verstappen.

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De toda a maneira, é uma pole importantíssima para a Ferrari, que trava uma dura disputa com a Mercedes pelo vice-campeonato. Charles sai na posição de honra, enquanto Carlos Sainz larga da quarta posição. Saldo mais que positivo para os ferraristas.  "Foi um ótimo trabalho de equipe. Sabemos que em fins de semana com sprint é mais importante que nunca ter um bom treino livre, e fomos assim", disse o piloto do carro #16.

"Começamos com uma base forte graças ao trabalho que o pessoal tem feito para este final de semana, com o carro imediatamente se comportando bem", completou Charles.

É muito real a maneira como a esquadra de Frédéric Vasseur vem se preparando para as corridas, principalmente nesta segunda fase de temporada. Entretanto, há algumas questões que a Ferrari terá de resolver até o domingo — ou ao menos, minimizar o déficit em relação às rivais. O primeiro ponto de preocupação são os pneus, o desgaste é crônico, e as altas temperaturas no Texas apenas agravam essa falha. Junte-se a isso também o formato sprint do fim de semana que obriga uma cautela maior sobre o uso dos compostos da Pirelli.

Charles Leclerc conquistou sua 21ª pole na F1 (Foto: AFP)

O segundo fator é a enorme diferença de velocidade nos trechos mais rápidos. A Ferrari perde para todas as adversárias, então será um desafio se manter à frente no primeiro setor do circuito americano. Além disso, o ritmo de corrida do time de Maranello também, ao menos do que se viu no único treino do dia, também perde para Red Bull (mais de um décimo), Mercedes e McLaren — essas duas últimas estão, inclusive, tecnicamente empatadas nesse quesito. Portanto, os italianos vão precisar de paciência e estratégia para tentar a vitória.

Aliás, não só a Ferrari, porque a McLaren também tem suas preocupações. É claro que o segundo lugar de Lando Norris é uma oportunidade de ouro para buscar enfim o triunfo na F1, mas isso também vai depender de decisões acertadas. Uma delas foi a divisão do uso de pneus ao longo da classificação, para afastar qualquer risco e garantir as colocações mais sólidas. A esquadra inglesa optou por usar os pneus macios novos no Q1 e no Q2, deixando apenas um conjunto novo para a fase derradeira. E Norris soube aproveitar a tática. O revés ficou por conta do desempenho de Oscar Piastri. Desta vez, o jovem australiano larga apenas em décimo e terá de uma prova de recuperação das mais árduas.

"No geral, estamos felizes com o potencial do carro em uma pista que esperávamos que fosse menos adaptável que as últimas etapas", afirmou o chefe Andrea Stella. "Como sempre acontece aqui em Austin, tivemos condições complicadas hoje. Mas estamos em posição de marcar bons pontos no domingo, nosso objetivo para este fim de semana. Também temos todo o sábado de sprint à frente e um carro com ritmo promissor. Vamos levar os aprendizados de hoje e tentar carregar essa boa fase para amanhã."

No domingo, a largada será também essencial para o plano de vencer da McLaren. A meta é superar rapidamente a Ferrari para pensar em si própria. Especialmente por há um Lewis Hamilton faminto e um tanto mordido saindo de terceiro. De fato, se a classificação foi das mais brilhantes para os vermelhos e os laranjas, a Mercedes deixou a pista com um sabor agridoce na boca.

Ainda que o terceiro lugar tenha sido um bom resultado, a sensação que ficou era de que Lewis Hamilton poderia ter feito a pole. Desde os primeiros momentos do primeiro treino livre, ficou claro que o inglês se adaptou de cara às novidades do W14 — a equipe chefiada por Toto Wolff colocou na pista de Austin o último pacote de atualizações, liderado por um redesenhado assoalho. Após a classificação, o britânico chegou a dizer que "é a primeira vez, em dois anos, que em apaixono tão rápido por um conjunto de atualizações".

Verdade seja dita: Hamilton imprimiu um ritmo muito forte e se viu apenas 0s139 longe da posição de honra do grid. Certamente, diante dessa declaração de amor e do fato de que adora o circuito americano — onde venceu diversas vezes —, a performance do heptacampeão deve ser potencializada, e isso já o torna também um forte postulante à vitória.

Mercedes não saiu feliz com resultado na classificação de Austin (Foto: Mercedes)

Há ainda George Russell. Ainda que tenha dito mais dificuldades para se entender com as peças novas, o dono do carro #63 ainda foi capaz de espremer tudo que deu para garantir um louvável quinto posto. Ainda assim, a Mercedes esperava mais. "Para ser honesto, acho que estamos um pouco decepcionados por não conseguirmos chegar mais longe”, admitiu Andrew Shovlin. engenheiro de pista o time alemão. “Em alguns momentos, pensamos que realmente estávamos na briga pela pole."

"Mesmo assim, espero que possamos dar passos à frente em relação ao ponto em que estamos. A sprint de amanhã vai deixar um pouco do sabor do que virá na corrida principal, no domingo", acrescentou. Na estratégia correta, é um fato, os alemães têm muito a oferecer no domingo. Além disso, a Mercedes fica pouco atrás em termos de ritmo de corrida na comparação com os taurinos.

E falando neles, a Red Bull também viveu um dia mais tumultuado que o normal. Não, não é algo semelhante a Singapura, onde se viu longe dos holofotes. Desta vez, foram pequenos detalhes que afastaram os atuais campeões da pole. Verstappen não esmoreceu e mostrou a força costumeira, tanto que seria pole não fosse a escapadinha na penúltima curva do traçado, que acabou por anular o giro que lhe dava o principal posto do grid. Larga em sexto, portanto.

No entanto, Max é favorito ao triunfo no domingo. Não só pelo ritmo forte do RB19 — sim, ainda que o TL1 não tenha apresentado um retrato fiel sobre a hierarquia de forças em Austin, o carro taurino mostrou consistência, e isso deve se replicar no domingo —, mas também pela maneira sólida como segue guiando, ainda que já tenha fechado o campeonato em 2023. Além disso, já venceu corridas de todos os jeitos nesta temporada.

Ainda assim, o GP dos EUA será como um jogo de tabuleiro. Quer dizer, a tática de corrida será fundamental, especialmente no que diz respeito aos pneus — médios e duros devem ser os compostos da prova de domingo, então as escolhas frente à corrida sprint deste sábado terão de ser precisas, para não comprometer o domingo, em que será decisivo. E como desgraça pouca é bobagem, há também um calorão para se enfrentar em um traçado de asfalto áspero e ondulado, com curvas de todos os tipos. A expectativa é de duas paradas, mas tudo vai depender do termômetro, mais uma vez.

GRANDE PRÊMIO acompanha AO VIVO e EM TEMPO REAL todas as atividades do GP dos Estados Unidos de Fórmula 1. No sábado, a classificação sprint acontece às 14h30 (de Brasília, GMT-3), com a largada da prova curta às 19h. Já no domingo, a corrida oficial larga às 16h. O GRANDE PRÊMIO ainda exibe classificação, corrida curta e a corrida em segunda tela, em parceria com a Voz do Esporteatravés da GPTV — o início das transmissões se dá 15 minutos antes das atividades.

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