“Foi difícil chegar até aqui”: pais narram emoção da 1ª vitória de Moreira na Moto3

Luiz Nascimento e Sandra Moreira assistiram separados ao momento de glória do filho, mas viram refletidas nas lágrimas de Diogo Moreira no topo do pódio da Moto3 no GP da Indonésia todas as dificuldades que enfrentaram para chegar até lá

A chegada em Mandalika, que deu a vitória ao brasileiro Diogo Moreira (Vídeo: MotoGP)

Ele estava em Mandalika. Ela, na Espanha, assistindo ao GP da Indonésia de Moto3 de casa. Mas, mesmo afastados por quilômetros, Luiz Nascimento e Sandra Moreira se conectaram em uma mesma emoção no último domingo: o sentimento “indescritível” de ver o filho vencer pela primeira vez no Mundial de Motovelocidade.

No último dia 15, Diogo Moreira, de só 19 anos, conquistou a primeira vitória da carreira no principal campeonato da motovelocidade mundial, encerrando um jejum de 18 anos sem vitórias brasileiras nas classes a combustão. Foi, também, o primeiro triunfo do Brasil na Moto3.

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Luiz Nascimento (à esquerda, de óculos) assistiu em Mandalika ao triunfo de Diogo Moreira (Foto: KTM)

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Quem é Diogo Moreira, o primeiro brasileiro a vencer na Moto3?

Junto do filho em todas as etapas da Moto3, Luiz assistiu dos boxes da MSi o momento em que o #10 cruzou a linha de chegada da pista de Mandalika com 0s107 de vantagem para David Alonso, formando uma dobradinha sul-americana com o colombiano da Aspar.

“Ver o Diogo cruzar a linha de chegada, para mim, é uma coisa que eu já esperava. Eu só não sabia quando”, disse Luiz ao GRANDE PRÊMIO, instantes antes de embarcar para a Austrália para a corrida deste fim de semana. “Poderia ser em qualquer um desses circuitos que nós já passamos ou no futuro. Eu só não sabia quando”, frisou.

“Mas a emoção de vê-lo chegar na linha de chegada e fazer todo o fim de semana que ele fez: fez a pole, o que já é difícil, mas fazer a pole e ganhar uma corrida no Mundial, para mim, foi indescritível”, destacou. “Foi muita emoção. E faz a gente lembrar, principalmente a hora que ele estava no pódio, de quanto foi difícil chegar até aqui. E é difícil se manter aqui, sabe? Se manter daqui para a frente, porque não foi fácil”, conta.

Luiz reconhece a dificuldade de todos os brasileiros que deixam o país para tentar carreira no esporte enfrentam e se emociona ao recordar a trajetória de Diogo.

“A gente sabe que muitos brasileiros já tentaram, outros estão tentado assim como nós. Todavia, ainda estamos aqui trabalhando para seguir”, comentou. “Mas a emoção é muito, muito grande. Indescritível. Principalmente por ver o Diogo feliz. Chorando de alegria. Eu fico emocionado, porque eu sei por tudo que ele passou, o quanto ele trabalhou para chegar até aqui, por quantos anos. Nós largamos família, todo o esforço que a família fez para ele estar aqui agora no Mundial, então essa emoção vai ficar comigo para o resto da vida. Ganhar a primeira corrida no Mundial: para mim, foi… sem palavras”, acrescentou.

O pai do piloto, que é o sétimo colocado na classificação do Mundial de Pilotos de 2023, ainda enviou um recado de agradecimento aos fãs que apoiam Diogo.

“E agradecer também a todos os brasileiros que torceram pelo Diogo, que estão torcendo até hoje. Agradecer a todos. É muito importante também que têm muitos brasileiros, principalmente que são apaixonados pelas duas rodas, torcendo por um brasileiro que está no Mundial”, frisou. “Vamos seguir trabalhando, porque nós sabemos que ele pode fazer igual o que fez neste fim de semana pela frente. Se Deus quiser!”, completou.

Na Espanha, onde vive coma família, Sandra assistiu de casa ao triunfo do filho, mas tampouco conseguiu conter a emoção.

“Eu assisti a corrida aqui de casa, na Espanha”, contou Sandra ao GP. “Meu Deus! A sensação eu não sei nem se consigo descrever. Foi uma emoção muito grande! Quase não conseguia acreditar no que acabava de acontecer, que aquilo era real. Eu sorria, eu chorava. Enfim, foi incrível”, seguiu.

A mãe de Diogo conta que conseguiu sentir a mesma emoção do filho, que não deu conta de conter as lágrimas no pódio de Mandalika.

“Passou um filme na cabeça. Chorei com ele nesse momento. Pude sentir exatamente o que ele sentiu, tudo que passamos, as dificuldades que enfrentamos quando chegamos aqui na Espanha, longe de tudo, da família, a falta de recursos, de apoio, de amigos…”, listou. “E lembrei que, independente de tudo, tínhamos Deus e um propósito, uma meta, um sonho. Acreditamos nele e seguimos em frente. E, naquela hora, sabia que aquele choro foi de pensar que, sim, valeu a pena”, relatou.

Hoje, a família vive reunida na Espanha, mas nem sempre foi assim. Quando Diogo deixou o Brasil, em 2017, ele partiu para o Velho Continente acompanhado apenas do pai. Aos 13 anos!

“O Diogo foi na frente junto com o pai, em 2017. Eu fiquei no Brasil, porque tinha que trabalhar e não pude vir com eles. Fiquei sozinha e, nos dois primeiros anos, viajava para Espanha uma vez por ano para ir visitá-los e voltava para o Brasil”, relata Sandra ao GRANDE PRÊMIO. “Aí, em 2020, decidimos que estava na hora de deixar para trás as coisas do Brasil e unir a família de novo, porque estava ficando difícil ficar longe tanto tempo. Eu comecei a ficar deprimida com tudo isso. Aí meu marido um dia me disse: ‘Chega! Deixa tudo aí e vem para cá ficar com a gente! Precisamos de você aqui’. Aí larguei tudo e vim”, continua.

“O Luiz, quando chegou com o Diogo, se dedicou a maior parte do tempo para o Diogo, com os treinos, pois eram diários e bem intensos para poder chegar ao nível dos outros pilotos. E isso ele continua fazendo até hoje, então o trabalho dele é hoje exclusivamente esse. No início, como havia mais tempo livre e muito mais necessidade financeira, nas folgas dos treinos ele fazia alguns trabalhos extras para ajudar nas despesas”, explica. “Eu, do Brasil, enquanto estava trabalhando, ajudava enviando recurso para eles poderem se manter aqui. Depois que vim para cá, continuei no início fazendo alguns trabalhos pela internet e fomos levando. Hoje não trabalho, só cuido da casa e da alimentação do Diogo e do Luiz, claro”, acrescenta.

A ida de Diogo para a Espanha foi fruto de uma iniciativa da Estrella Galicia 0,0, que quis repetir no Brasil o que faz com muito sucesso na terra natal do grupo Hijos de Rivera: investir em jovens pilotos. Ele foi descoberto por Alexandre Barros no motocross e lapidado no país antes de viajar para se juntar a Monlau, a mesma escola técnica que formou os irmãos Álex e Marc Márquez.

A mãe do piloto reconhece que, sem o apoio da cervejeira, não seria possível chegar à Europa, mas destaca que o esforço para se manter por lá é também enorme.

“O esforço é gigantesco. O caminho é muito difícil de percorrer”, pontua Sandra. “E, sim, o projeto Estrella Galícia abriu as portas para o Diogo entrar no mundo da motovelocidade e a vir para a Espanha. Sem ele, acredito que ele não teria entrado”, assume.

“Porém, tem uma coisa que eu também gosto de falar: o projeto foi incrível, abriu sim as portas para o Diogo — outros brasileiros passaram pelo projeto, o Diogo não foi o primeiro —, mas o mais difícil não é chegar, é se manter lá”, avalia. “Então costumo dizer que é um conjunto de fatores que leva uma pessoa a alcançar o sucesso: o abrir de portas é fundamental, claro, mas se manter lá dentro vai depender do seu trabalho e da sua dedicação”, encerra.

O treino da MotoGP para o GP da Austrália, em Phillip Island, acontece nesta sexta-feira, à 1h (de Brasília). O GRANDE PRÊMIO faz a cobertura completa do evento, assim como das outras classes do Mundial de Motovelocidade.

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