Fórmula 1

Retrospectiva 2022: McLaren e Alpine visam adeus a 'âncoras' e miram tira-teima em 2023

Em 2021, deu McLaren. Nesta temporada, Alpine à frente. E em 2023, quem vai levar a melhor? Em preparação para o duelo interno, as parecidas rivais tentam se livrar das âncoras que limitaram performance em 2022 para ver quem ‘conquista’ a trilogia — com promessa de capítulo final

McLaren e Alpine são rivais, claro, mas têm mais em comum do que possivelmente imaginam. 

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Na temporada de 2021, a disputa da equipe de Woking foi com a Ferrari, e pelo terceiro lugar do Mundial de Construtores. Por consequência, a Alpine — em seu primeiro ano de dupla formada por Fernando Alonso e Esteban Ocon — ficou naturalmente atrás. Bem atrás: 155 a 275 pontos na tabela.

Para 2022, mudanças deram o tom. Não só na Fórmula 1, com seu novo regulamento técnico — a maior alteração das regras em 40 anos —, como também na própria equipe francesa. Otmar Szafnauer chegou, assim como Bruno Famin, por exemplo.

Szafnauer chegou para comandar Alpine em 2022 (Foto: F1)

O cenário, pois, ficou diferente. A Alpine acertou a mão e trouxe ao mundo uma boa A522, bólido da temporada. A abordagem estratégica também chamou atenção: ao contrário dos demais times, a equipe azul constantemente atualizou seu carro, corrida a corrida. Nada de ‘pacotão’ repentino

Nada disso significou, entretanto, que a Alpine não iria contar com um indesejado calcanhar de Aquiles: a confiabilidade. 

Alonso cansou de dizer e ressaltar, em mais de uma oportunidade, o prejuízo na tabela pelas falhas do bólido francês em 2022. “Com certeza, não estou feliz. Um pouco decepcionado, mais uma vez. Já estava com 50 pontos a menos ao longo do ano por conta de problemas mecânicos — adicionamos mais 10 hoje, então 60. E se você colocar 60 pontos a mais para mim no Mundial de Pilotos, estaria em outra liga.”, disse o bicampeão, após o abandono em Singapura — o 4º da temporada. Foram 6, ao total: Arábia Saudita, Emília-Romanha, Itália, própria Marina Bay, México e Abu Dhabi.

Alonso se frustrou com os diversos problemas de confiabilidade na temporada. Calcanhar de Aquiles? (Foto: Alpine)

Curiosamente, Ocon ‘só’ teve dois abandonos ao longo da temporada — em Silverstone e Singapura. Isso, eventualmente, gerou comentários irônicos do Príncipe das Astúrias. “Para o carro 14, sempre existem problemas de confiabilidade. Só é incrível que só um ou dois carros abandonem em todas as corridas e seja sempre o carro 14. Estouramos cinco motores este ano”, esbravejou Alonso, após o GP da Cidade do México. 

A alfinetada de Alonso respingou na relação do espanhol com Ocon. A partir daí, um inesperado clima de rivalidade tomou conta da equipe francesa. O ápice disso aconteceu em Interlagos: na corrida sprint, Alonso e Ocon se estranharam logo no início, quando duelavam pela sexta posição. O toque entre eles quebrou a asa dianteira do carro do espanhol, que ironizou a manobra do francês ainda pelo rádio. “Ele me empurrou na curva 4 e depois na reta. Muito bem. Perdi minha asa dianteira. Um muito obrigado ao nosso amigo”, bradou.

Ocon esperou a temporada acabar para despejar suas respostas. “Não é segredo que fiquei decepcionado ao ver os comentários dele após a corrida. Não havia nenhuma necessidade para algumas críticas que ele fez. Mas eu o respeito muito. Sempre vou respeitá-lo pelo que ele fez na pista e ao longo dos anos. Ele é uma lenda do esporte, e isso não vai mudar, mas fiquei um pouco decepcionado”, pontuou.

Alonso e Ocon se estranharam na corrida sprint em Interlagos (Foto: Reprodução/F1 TV)

Pouco depois, o francês deu declaração ainda mais contundente — acusando sobrecarga na temporada e apontando uma certa falta de envolvimento de Alonso com o trabalho diário na Alpine.

“Respeito tudo o que ele fez na pista, seus títulos e, principalmente, a motivação que tem com a idade atual. É bom que ele vá para a Aston Martin e que sigamos nossos próprios caminhos. 98% do trabalho caiu sobre mim e 2%, nas costas dele. Fiquei sobrecarregado. Fiz todo o desenvolvimento em simulador, o marketing…”, disparou. 

Fato é: se a Alpine já trabalha para se livrar dos problemas de confiabilidade, projetando inclusive chegar ao nível das três equipes do topo do pelotão e revelando um desenvolvimento significativo do bólido para 2023, a equipe francesa — contra sua vontade, é verdade — vai se livrar de outra possível dor de cabeça na próxima temporada. Afinal de contas, Alonso está de malas prontas para a Aston Martin.

Existem dúvidas sobre a relação entre Ocon e Pierre Gasly, dupla de 2023? Existem, claro. Mas este segmento faz parte de um outro capítulo.

Ano novo, vida nova (Foto: Alpine)

Vamos pular o muro e falar da equipe de Woking. A McLaren se parece com a Alpine, e não só pelo nível de performance, não. As duas assumiram o posto de melhores equipes ainda incapazes de pódio a cada corrida — Lando Norris foi o único piloto fora do ‘trio de ferro’ que conseguiu ao menos um top-3 no ano. 

É que, assim como a Alpine, a McLaren teve um calcanhar de Aquiles crônico ao longo de 2022. Esse, com nome e sobrenome: Daniel Ricciardo.

Verdade seja dita: Norris brigou sozinho contra Ocon e Alonso. De 22 corridas na temporada, Ricciardo só pontuou em 7. Pouco, pouquíssimo, para um piloto como ele, em uma equipe como a McLaren. 

Ricciardo decepcionou, e muito, em 2022 (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)

Sem a ajuda do companheiro de equipe, Norris buscou forças de onde dava para deixar a disputa equilibrada. Conseguiu, em parte, mas não deu. O MCL36, segundo o próprio britânico, também não colaborou muito.

“O quinto lugar é onde merecíamos ficar. É natural que se fique decepcionado quando há uma chance de ficar em quarto e você sente que dava para ter conseguido, mas tivemos um fim de semana de confiabilidade ruim enquanto a Alpine teve quatro ou cinco [ao longo do ano]. Eles tiveram um carro mais rápido na maior parte do ano”, apontou Lando.

“Então, acho que conseguimos nos manter na briga por muito tempo, o que mostra como nosso trabalho foi bom com um pacote pior, na realidade. Assim, termino bem feliz. Ficamos em quinto, mas há muita coisa boa a tirar do trabalho que estamos fazendo. Começamos muito atrás na temporada. Espero que comecemos bem melhor no ano que vem, consigamos realizar o desenvolvimento, fazer o progresso que fizemos neste 2022 e, aí, vamos terminar bem melhores”, completou.

Lando Norris teve de carregar a equipe de Woking (Foto: McLaren)

A tendência de crescimento da McLaren, com evoluções a cada temporada, foi interrompida em 2022. Na tabela do Mundial de Construtores, derrota para Alpine: 173 a 159. Para mudar o cenário em 2023 e retomar a trajetória ascendente, Zak Brown e Andreas Seidleste último agora está na Sauber — demitiram Ricciardo.

O substituto veio da Academia de Pilotos da… Alpine, veja só. A rivalidade entre as duas equipes ultrapassou os limites de pista e foi para os tribunais. Oscar Piastri rejeitou publicamente o time francês e assinou com a McLaren. A polêmica toda, com certeza, você já sabe.

Em setembro passado, o CRB (Conselho de Reconhecimento de Contratos, em português) — órgão da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) que regula contratos —, validou o vínculo entre o australiano e a equipe de Woking.

Piastri foi centro de disputa entre as duas rivais (Foto: Alpine)

Tanto a McLaren quanto a Alpine, pois, projetam vida nova em 2023. A esquadra de Woking deu adeus a Daniel Ricciardo, a equipe azul vai se despedir de um A522 veloz, mas com claros problemas de confiabilidade. 

Será que Piastri vai dar conta do recado? E o próximo bólido da Alpine, não terá tantas falhas?

A expectativa é que as respostas para tais perguntas sejam afirmativas. Sem mais ‘âncoras’ de performance, afinal, e clima de tira-teima na próxima temporada. Quem leva?