Fórmula 1

Na Garagem: Senna vence GP da Austrália e se despede da McLaren na Fórmula 1

Há exatos 30 anos, num 7 de novembro como hoje, Ayrton Senna venceu o GP da Austrália e encerrou a temporada 1993 com o que se tornou o último triunfo na Fórmula 1

Há uma inerente curiosidade com a construção de fatos históricos. Alguns são claros, evidentes, e a percepção de que se trata de algo memorável e do tamanho do feito se torna claro instantaneamente. Mas nem sempre é assim. Em outros tantos casos, a memória emoldura posterioramente, apenas, histórias que, conforme eram contadas, pareciam somente mais um dia, mais um momento. E é o caso da efeméride de hoje: a última vitória de Ayrton Senna na Fórmula 1 completa 30 anos.

Quando Senna recebeu a bandeirada e venceu o GP da Austrália de 1993, encerrando uma temporada em que a Williams teve controle da situação e Alain Prost conquistara o título por antecipação, parecia só mais uma vitória. Não que deixasse de ser digna de certa lembrança, uma vez que ali se encerrava a vencedora ligação de Ayrton com a McLaren, mas era somente isso. Foi apenas mais tarde que, naquele dia, Adelaide se tornou praça da última vitória de Senna no Mundial de Fórmula 1.

Prost levou o tetra no GP de Portugal de 1993 (Foto: Reprodução)

A Fórmula 1 em 1993

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O campeonato entrou em 1993 sem muitos mistérios. A Williams dominara o ano anterior, com o FW14B, e sabia, como o mundo inteiro sabia, que o favoritismo era imenso. Mesmo que a equipe tivesse sacudido tudo, contratado Prost e, por tabela, perdido o campeão vigente Nigel Mansell. Era estranho perder o campeão, mas Prost era Prost. Automaticamente, naquele carro, passou a ser o favorito. Damon Hill também chegou ao time inglês, substituindo Riccardo Patrese.

Nas primeiras dez corridas do ano, Prost fez dez poles contra uma de Hill e venceu sete vezes, furado apenas por Senna e a McLaren. Mas era um amasso: não havia como parar o rolo compressor da Williams na tabela de pontos. Assim, Prost confirmou o tetracampeonato mundial no GP de Portugal, 14ª das 16 provas do calendário.

Com Senna, que fazia um ano de altíssimo nível após um 1992 um tanto quanto contestável, crescia o descontentamento. Afinal, a McLaren estava claramente superada pela rival inglesa, já não contava mais com a potência dos motores Honda — substituídos pelo inferior motor da Ford — e Ayrton sabia que as chances de brigar por um título naquelas condições, por melhor que estivesse rendendo, eram nulas. O desejo de sair foi ficando mais e mais claro. A intensidade das conversas com a própria Williams, um namoro antigo, também cresceu.

Frank Williams, o mundo inteiro sabia, queria Ayrton, mas tinha Prost e uma nova parceria entre os dois era impraticável. No começo do fim de semana de Portugal, logo antes de confirmar o título, então, Alain anunciou a aposentadoria da F1. Oficialmente, caminho aberto para Senna. E o anúncio viria em outubro, antes das duas corridas finais do campeonato, Japão e Austrália.

Senna e Prost no pódio pela última vez, na Austrália, em 1993: a última vitória do tricampeão (Foto: Reprodução)

Senna e o GP da Austrália de 1993

Já era sabido de papel passado e tudo mais que Senna estava de malas prontas e faria na Austrália a despedida pela McLaren. Após assinar com a Williams, vencera no Japão e pretendia repetir o feito no antigo circuito de rua de Adelaide.

E a classificação já foi um deleite. Senna finalmente quebrou o hiato de poles que já durava desde o GP do Canadá de 1992 e interrompeu uma incrível sequência de 24 pole-positions seguidas da Williams na F1. De quebra, evitou que a equipe encerrasse com 100% de poles em 1993: apenas Prost e Hill haviam largado da posição de honra naquela temporada.

Ayrton rodou quase 0s5 na frente de Alain e Damon e, assim, sairia em primeiro no domingo, com os dois rivais e Michael Schumacher completando as duas primeiras filas. Mika Häkkinen, Gerhard Berger, Jean Alesi, Martin Brundle, Patrese e Aguri Suzuki finalizaram o top-10.

A largada foi atribulada, é verdade. Na primeira tentativa, Brundle ficou parado no grid na saída para a volta de apresentação, que ainda contou com o carro de Ukyo Katayama apagando sozinho; depois, Eddie Jordan parou no lugar errado. Apenas na terceira tentativa é que as coisas aconteceram, de fato, e Senna saiu na ponta.

Ayrton Senna venceu o GP da Austrália para encerrar 1993 (Foto: Reprodução/Reddit)

A verdade é que Ayrton manteve o controle da corrida durante boa parte das 79 voltas. Perdeu apenas na volta 24, quando fez pit-stop antes das Williams e cedeu a ponta para Prost por cinco voltas. Quando o rival, parou Senna liderou novamente. Aí, não perdeu mais. No momento do segundo pit-stop, Prost e Hill já haviam entrado antes e, portanto, Senna foi capaz de voltar ainda na ponta.

Suficiente para comandar as ações até o fim e confirmar a vitória de número 41 na Fórmula 1, 35 das quais pela McLaren, por onde também marcou 46 poles.

"Concentrei de maneira pesada na largada real, após duas falsas largadas. Mantive os olhos em Prost, que estava ao meu lado, e, pelo retrovisor, observei Damon Hill, que estava logo atrás. Afinal, foi minha única pole-position no ano, e não queria cometer erros", afirmou.

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Tina Turner cantou para Ayrton Senna após o GP da Austrália vencido pelo brasileiro em 1993 - o último de sua carreira (Vídeo: SporTV)

No pódio, Prost, dono da segunda posição - com Hill em terceiro - esticou a mão para cumprimentar Senna, que aproveitou para puxar o antigo nêmesis para o pódio. Era, afinal, o fim daquela história. A rivalidade ficara no passado, Prost saía de cena e os dois, como verdadeiros campeões, decidiram deixar aquela imagem, de companheirismo e fair play, como a última de ambos juntos no pódio.

Horas mais tarde, Senna foi ao show de Tina Turner em Adelaide. A estrela norte-americana convidou Ayrton ao palco em dado momento, disse que era "realmente fã" e dedicou a ele o sucesso 'The Best - 'O Melhor', em tradução livre.

Não dava para saber àquela altura, com Senna de partida para a equipe dominante da F1, mas a vitória em Adelaide terminaria eternizada como a última da carreira do tricampeão.

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