Mercedes enfim mata 'zeropod' e acerta ao colocar W14 'B' à prova em Mônaco

A quinta-feira em Mônaco foi agitada. Um tanto por conta da Mercedes, que exibiu no pit-lane parte das atualizações que promoveu em seu W14. As mudanças são notórias, mas o que chamou a atenção foi a ousadia em testar todo esse pacote no peculiar circuito de Monte Carlo. Ao mesmo tempo, o time tenta frear qualquer sinal de entusiasmo e prega a cautela. Mas só o tempo dirá se a equipe octacampeã será recompensada

Enfim, a Mercedes apresentou ao mundo as atualizações que foram cuidadosamente estudadas em Brackley nos últimos três meses. É a tentativa de encontrar uma direção assertiva dentro do regulamento que trouxe de volta o efeito solo à Fórmula 1. A equipe alemã investiu em um conceito extremo em 2022, na virada das regras, e defendia que ainda havia potencial, mas 2023 exibiu uma realidade dura e expôs sem filtro a equivocada opção do time oito vezes campeão. Assim, um novo carro começou a ser pensado logo depois da primeira corrida, no Bahrein. Parte desse trabalho já pôde ser visto nesta quinta-feira (25) no pit-lane de Mônaco, onde a F1 está para a sexta etapa da temporada.

A ideia original era colocar esse pacote de atualizações à prova em Ímola, na semana passada, mas o cancelamento da corrida acabou obrigando a Mercedes a tomar uma decisão ousada e corajosa. Quer dizer, com tudo pronto, a esquadra escolheu usar o Principado para o primeiro grande teste dos novos elementos. A opção é arriscada por conta da natureza do traçado monegasco: extremamente lento, estreito e de asfalto acidentado, o circuito também pede carros equilibrados, que são capazes de gerar downforce e tração.

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O tamanho da decisão da Mercedes pode ser medido pela escolha de outras equipes. A Ferrari, por exemplo, preferiu pular Mônaco. A Aston Martin e a Red Bull também. Mas o caso é que o grupo chefiado por Toto Wolff não tem esse tempo e perdeu o direito de errar. Assim sendo, é um acerto começar os testes o mais rápido possível.

Mercedes se livra do 'zeropod': as imagens do novo W14 'B' em Mônaco

Novo carro da Mercedes apareceu na quinta-feira em Mônaco (Foto: Christian Menath/Twitter)

E mesmo que as ruas à beira do Mediterrâneo não configurem o melhor lugar, a Mercedes não tem muito mais a perder do que já aconteceu na última temporada e no início da atual, precisa mudar e dar um rumo definitivo ao desenvolvimento não só deste carro, mas daquilo que pretende ser em 2024. "É um evento único, mas ainda vai proporcionar uma oportunidade de aprender sobre as atualizações do carro — só que também precisamos ter cuidado para não tirar muitas conclusões deste único evento. Estamos introduzindo o primeiro passo em uma nova direção", afirmou o chefão Wolff em Mônaco.

"Não será uma bala de prata. Pela minha experiência, isso não existe em nosso esporte. Mas esperamos que esse pacote dê aos pilotos uma plataforma mais estável e previsível. Então, podemos desenvolver isso nas próximas semanas e meses", completou. Correto.

Lewis Hamilton adotou o mesmo discurso e afastou a possibilidade de resultados expressivos neste fim de semana. "Estamos gratos por estar aqui, mas com essas atualizações, será difícil ver como tudo vai funcionar. Eu espero que essa nova versão nos coloque mais perto da Ferrari e da Red Bull. Não acho, entretanto, que vamos brigar pela vitória, mas quero estar mais na briga", disse o heptacampeão aos jornalistas.

E suas palavras foram compartilhadas por George Russell — só que de forma mais dura, digamos assim. O inglês ainda foi mais além na avaliação da decisão tomada pela Mercedes e do que esperar do fim de semana. "Não acho que vamos aprender muito em uma etapa como essa. O que quer que tiremos deste fim de semana, ainda vamos a Barcelona com uma ficha limpa, porque Mônaco é muito desafiador", afirmou, se referindo à próxima parada da F1.

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Do caos inicial às atualizações: o que está por trás do W14 ‘B’ da Mercedes na F1 2023

Em seguida, Russell esclareceu: "Mas queríamos começar a trabalhar com o desenvolvimento logo. Obviamente, estava planejado para Ímola, mas não vamos apenas deixar de lado as atualizações e não as usar. Talvez seja ousado, mas iríamos de qualquer jeito utilizar aqui".

Ainda, o britânico revelou que o que o animou para testar as novidades foi a experiência no simulador. "O que tentamos no simulador até agora foi positivo, tanto a parte a aerodinâmica quanto mecânica."

"Nós ainda teremos de reavaliar isso tudo na semana que vem. É um desafio porque há sempre manchetes em torno das nossas atualizações, mas outros times também vão levar peças novas, especialmente na Espanha. Então, podemos esperar avanços por partes das nossas rivais. Afinal, todos temos os mesmos alvos", emendou.

Em um primeiro olhar, dá para estranhar tal discurso, porque a ousadia do time contrasta com a cautela que é demonstrada por todos. Mas isso também é um acerto da Mercedes. Tanto nas entrevistas quanto dentro das garagens. A equipe tinha mesmo de ir para o tudo ou nada, mas precisa dar um passo firme de cada vez, nem que, para isso, seja necessário espiar o vizinho.

O QUE MUDOU, AFINAL?

Desta vez, a engenharia tentou soluções menos inventivas e procurou entender melhor os conceitos da concorrência. É claro que ainda é cedo para dizer, mas do que se viu no pit-lane de Mônaco, o time recomeçou quase do zero, ao investir em um novo desenho do assoalho, chassi, difusor e suspensão dianteira. Há quem diga que o carro também perdeu peso nessa transformação.

A ideia é tentar azeitar o desempenho mecânico com uma maior eficiência aerodinâmica, equação difícil dentro das novas regras. O 'zeropod' se foi em definitivo e deu lugar a um conceito mais robusto. Não é tão sofisticado quanto o design da Red Bull, mas é parecido ao que o restante do grid adota. Certamente, ainda vai demandar algum tempo de estudo em cima desse elemento. Por ora, a Mercedes apenas torce para que seja um pouco mais fácil de compreender.

Novo sidepod do W14 apareceu em Mônaco (Foto: AFP)
Novo sidepod do W14 apareceu em Mônaco (Foto: AFP)

Já as laterais são mais semelhantes ao caminho tomado pela atual campeã e pela Aston Martin. Tudo com o objetivo de ganhar em downforce e equilíbrio, mas, principalmente, fazer com que o carro se torne menos enigmático e difícil. A sexta-feira de treinos vai começar a dar uma ideia da direção que a esquadra tomou.

De toda a forma, a Mercedes parece ter feito as perguntas certas na revisão do W14. É claro que não terá todas as respostas que deseja em Mônaco, mas é um início, ainda que com 18 meses de atraso.

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