Do caos inicial às atualizações: o que está por trás do W14 'B' da Mercedes na F1 2023

A Mercedes trabalhou muito nos últimos três meses para tirar do papel as atualizações do W14, que nasceu problemático e imprevisível. E embora não tenha revelado os segredos e as novidades da nova versão, a equipe alemã contou como se deu o processo de desenvolvimento do projeto que pretende recolocar a marca da estrela no caminho das vitórias

A Mercedes entendeu rapidamente que fez a escolha errada ao investir uma vez mais no conceito do zeropod para a F1 2023. Os primeiros sinais da decisão equivocada surgiram ainda nos testes no túnel de vento, mas, mesmo assim, o projeto foi levado adiante. E na pista, já no Bahrein, a equipe alemã precisou enfrentar a realidade de um W14 problemático e imprevisível. Não demorou muito para perceber que uma mudança era imperativa. Assim, os engenheiros recuaram e começaram a pensar em alternativas para salvar a temporada na Fórmula 1.

O resultado desse trabalho será visto na semana que vem, em Mônaco, onde a Mercedes pretende apresentar um robusto pacote de atualizações — a ideia era que a nova versão fosse à pista em Ímola, mas o cancelamento da etapa da Emília-Romanha obrigou uma alteração nos planos.

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Portanto, ainda não se sabe a direção tomada pela Mercedes com relação às atualizações em si, só que é de conhecimento público que a equipe concentrou esforços em um novo chassi, assoalho e suspensão dianteira. Mas como foi possível promover tamanha mudança em tão pouco tempo? E mais, como o time lidou com as restrições de gastos? Parte dessas respostas está em um vídeo publicado pela esquadra chefiada por Toto Wolff no fim de semana.

Embora não revele os segredos e as novidades que possivelmente serão vistas no Principado, a peça mergulha no processo de desenvolvimento do novo W14 e coloca duas engenheiras, do setor da aerodinâmica, no centro também da evolução técnica dos octacampeões do mundo, além de outros elementos importantes na linha de produção, quando se trata de atualizações.

Líder do grupo de aerodinâmica da fábrica de Brackley, Claire Simpson é a responsável pela busca de performance. A engenheira destaca os estudos em busca de uma ideia assertiva e das simulações preliminares. "O processo de finalização de uma atualização é identificar a área de melhoria, compreender o que queremos melhorar em termos de fluxo de ar ao redor do carro. Avaliamos várias ideias, depois procedemos a um primeiro teste e com simulações para tentar perceber como gerir todas essas peças. Quando atingimos a meta, vamos para o túnel de vento", explicou Simpson.

A Mercedes também pontuou que um dos fatores mais relevantes neste processo é ouvir a opinião dos pilotos, bem como garantir a confiabilidade dos novos elementos, sem ultrapassar o teto de custos. “Nós obtemos dados específicos, precisamos entender se um componente é confiável, como reagirá depois de montado. Cabe a nós tentar quantificar a melhoria nas simulações. No fim, tudo é levado ao simulador, e os pilotos são ouvidos para uma avaliação. A nossa tarefa é ainda mais estratégica porque existe um limite de gastos: é fundamental não desperdiçar recursos, por isso temos de avaliar o investimento e os benefícios de uma atualização", falou Andrew Muir, engenheiro de simulação da equipe alemã.

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Mas uma vez que os novos elementos estejam aprovados entram em cena os demais departamentos da Mercedes. Essa fase foi detalhada pelo diretor de operações, Darren Burton.  "Existe um trabalho em equipe para a produção dos componentes. O departamento de aerodinâmica prepara um modelo da peça, depois vai para a produção. Aí se faz um molde e, depois, a peça. Logo em seguida, vem a pré-montagem e o controle de qualidade."

Burton, então, revela quanto tempo é gasto na preparação para o Mundial, bem como na situação atual da equipe alemã, com as atualizações. "Gerenciar todo esse trabalho requer planejamento. Para um carro novo, o planejamento começa um ano antes do shakedown, para as atualizações, dois meses antes da entrega. Também somos capazes de reagir e responder a emergências, mesmo em um dia, por exemplo, para danos durante um fim de semana ou para antecipar peças novas."

E o que acontece depois que as atualizações estão prontas? A responsabilidade passa para as mãos de Emma Corfield, chefe de performanace aerodinâmica da Mercedes. Como é de se esperar, todos elementos novos são submetidos a uma intensa checagem. "Para pequenas atualizações, o trabalho é simples: temos sensores no carro para medir os dados. Fazemos as primeiras análises ainda está na pista. Para mudanças maiores o trabalho é diferente", disse Corfield, antecipando o que deve acontecer no próximo fim de semana.

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A Mercedes só foi ao pódio na Austrália até aqui (Foto: AFP)

"Começamos a coletar dados nos finais de semana anteriores para ter uma base para iniciar. Comparamos a nova versão com a anterior para avaliar se há uma melhoria, depois analisamos o impacto em todas as partes da pista. Por fim, comparamos as descobertas com os resultados esperados."

Aí a mora a expectativa da Mercedes. A equipe da estrela de três pontas aposta todas as fichas nessa primeira grande atualização, que deve mudar completamente o W14. Não só visualmente, porque o zeropod deve cair, mas principalmente do ponto de vista aerodinâmico e mecânico. O objetivo é fazer o carro gerar maior downforce, equilíbrio e dirigibilidade, além de velocidade de reta.

A esquadra oito vezes campeã do mundo ocupa nesse momento a terceira posição no Mundial de Construtores, com 96 pontos, 128 a menos que a líder Red Bull.